ARTIGOS | Raul Jungmann
Artigos escritos por Raul Jungmann

Visite o Recife antes que desapareça…

Foi um choque. Numa das principais praças de Copenhague, no centro de uma exposição dedicada a 100 lugares par a serem visitados antes que desapareçam, um painel com o Recife e uma foto da praia de Boa viagem! Na praça, agora coberta de neve, as pessoas fazem fila e tiram foto dessa exposição realizada por uma ong dinamarquesa com base nos relatos do IPCC, o painel técnico da ONU sobre mudanças climáticas, que conta com mais de 2.500 cientistas. Pergunto a um dos organizadores o porquê da escolha do Recife como um dos 100 lugares no mundo a se visitar antes que desapareça, fruto das mudanças climáticas. Ele me responde singelamente que a escolha deriva de dois fatos. Os relatórios técnicos do IPCC sobre os riscos para cidades costeiras, e a situação particularmente crítica do Recife. E, em segundo lugar, a importância, história e população da nossa capital. Converso mais um pouco com ele, compro o álbum de fotos para mostrar ai no Recife quando chegar e saio da tenda armada no meio da praça de volta à neve e ao frio intenso.   Incrédulo, volto ao painel no meio da neve e o fotografo. Acho um absurdo, mas está lá. Somos o número 18 entre 100 localidades que, dizem eles, devem desaparecer. Releio o texto em inglês abaixo da grande foto de Boa Viagem. Ele fala um pouco das nossas origens, história, cultura. E destaca que tivemos a primeira sinagoga das américas, durante o período nassoviano. Sinceramente, não creio que iremos desaparecer. Me recuso a crer, acreditar. Mas, que aquilo ali no meio da praça é um sinal,... Leia Mais

Uma Babel eletrônica

Entrar na COP 15 não é fácil. São filas imensas e que só crescem a cada dia. O frio que faz quando se está do lado de fora é pesado e gela até os ossos, com temperaturas abaixo de zero e neve, como agora. Pior situação é a de quem busca credenciamento. Ai, a espera se estende a mais de 5 horas, em pé e no frio. Tanto tempo na fila tem um motivo. Essa Conferência foi projetada para receber 15 mil pessoas e, ontem, já eram 23 mil a circular pelos amplos espaços do Bella Center, que mais e mais se parece com uma grande feira livre. Aos participantes se soma um exército de mais de 3.500 profissionais de imprensa, e outros 3 mil a espera de credenciamento. Resultado, é cada vez mais difícil caminhar, achar lugar nos auditórios, tomar café ou mesmo guardar as pesadas roupas com que chegamos até lá. Se as nacionalidades e etnias, rostos, peles, roupas, olhos, cabelos e cores parecem infinitas, todos tem algo em comum por aqui. Refiro-me aos computadores pessoais, os netbooks, palmtops e laptops. Eles estão por todos os lugares e, acho, é a maior concentração deles por metro quadrado jamais vista. Sentados em imensas bancadas, em pé, deitados ou como seja, todos estão “wired”, ligados e conectados, formando uma imensa aldeia eletrônica em tempo real. Como se não bastassem tantas telas pessoais, as paredes ostentam telas gigantes de cristal líquido ou similar, aonde displays exibem imagens sobre praticamente tudo relativo à natureza e ao meio ambiente, do passado ao futuro provável e distante. Nessa babel eletrônica, o Brasil é... Leia Mais

Uma Babel eletrônica

Entrar na COP 15 não é fácil. São filas imensas e que só crescem a cada dia. O frio que faz quando se está do lado de fora é pesado e gela até os ossos, com temperaturas abaixo de zero e neve, como agora. Pior situação é a de quem busca credenciamento. Ai, a espera se estende a mais de 5 horas, em pé e no frio. Tanto tempo na fila tem um motivo. Essa Conferência foi projetada para receber 15 mil pessoas e, ontem, já eram 23 mil a circular pelos amplos espaços do Bella Center, que mais e mais se parece com uma grande feira livre. Aos participantes se soma um exército de mais de 3.500 profissionais de imprensa, e outros 3 mil a espera de credenciamento. Resultado, é cada vez mais difícil caminhar, achar lugar nos auditórios, tomar café ou mesmo guardar as pesadas roupas com que chegamos até lá. Se as nacionalidades e etnias, rostos, peles, roupas, olhos, cabelos e cores parecem infinitas, todos tem algo em comum por aqui. Refiro-me aos computadores pessoais, os netbooks, palmtops e laptops. Eles estão por todos os lugares e, acho, é a maior concentração deles por metro quadrado jamais vista. Sentados em imensas bancadas, em pé, deitados ou como seja, todos estão “wired”, ligados e conectados, formando uma imensa aldeia eletrônica em tempo real. Como se não bastassem tantas telas pessoais, as paredes ostentam telas gigantes de cristal líquido ou similar, aonde displays exibem imagens sobre praticamente tudo relativo à natureza e ao meio ambiente, do passado ao futuro provável e distante. Nessa babel eletrônica, o Brasil é... Leia Mais

Situação explosiva

Terminou agora o briefing do embaixador Luiz Fernando Figueiredo, negociador chefe da delegação brasileira. Resumidamente, ele disse o seguinte: “Essa é a maior COP até agora. Vamos ter mais nações e chefes de estado que na Rio 92. Quem conhece essas conferências, sabe que o dia de quarta é o mais tenso, o mais difícil. Depois, na quinta-feira,. começa a melhorar e se resolve, algo sempre se resolve na sexta”. Por aqui esta mais difícil. É que não se construiu um clima de confiança, de reciprocidade mútua, então fica mais difícil. Nós tivemos uma quebra de confiança grave. E tem também o problema da condução. A condução por parte dos anfitriões tem que ser mais firme, mais direta, orientar de fato. Aqui as coisas funcionam como partido no Congresso. Tem o nosso partido, o dos 77, que reúne mais de 120 países, tão dispares entre si que tem o pessoal das ilhas, que pode perder tudo com o avanço do mar e tem também os países petroleiros, que estão no pólo oposto. Mas tem dado para caminhar. Tem o pessoal do guarda-chuva, que e liderado pelos EUA, mais Ucrânia, Austrália, Canadá etc. E tem os nanicos também, como o grupo da integridade, que tem o México, Suíça, Mônaco e Coréia. Agora, o grupo dos 77, ao qual pertencemos, tem muita desconfiança, tem medo dos países ricos, de levar rasteira.Não tem nada em cima da mesa, não. Não tem metas vinculantes, não tem grana para fundos de médio e longo prazos. Ai, as pessoas estão muito nervosas, o clima está tenso, a situaçao está explosiva. Porque tem delegação que pode... Leia Mais

Agenda de hoje, 16 de dezembro, na COP 15

Ontem tivemos a abertura da etapa “política” da Conferência, com os discursos de Ban Ki-Mon, Connie Heregaard, Iwo de Boer, Principe Charles e a prêmio nobel da paz de 2004, Wangari Maathai, do Quênia. Hoje, com o comparecimento dos chefes de estado, a COP entra em sua fase decisiva. Me disse o embaixador Sérgio Serra, um dos coordenadores da delegação brasileira, que os dois textos básicos a serem apreciados pelos líderes dos paises presentes, o que se refere ao protocolo de Kioto e o da convenção do clima, só estariam prontos essa madrugada, após uma noite de negociações. O que não era bom sinal. Ontem, boa parte das negociações estavam travadas. Os seis grupos negociadores estavam praticamente paralisados, após dois baques consecutivos: a retirada, seguida de retorno, dos africanos e o boato recorrente que se tinha um “novo” texto sendo negociado pelos países ricos com alguns em desenvolvimento. Aliás, essa paranóia de textos secretos ou paralelos, deve-se, em boa medida ao país anfitirão, a Dinamarca. Mês passado, quando Barack Obama encontrava-se em visita a Ásia, o primeiro minnistro dinamarques teria levado um texto não oficial a conhecimento da China e dos EUA. Os chineses não teriam gostado nada das propostas e vazado para indianos, brasileiros e sulafricanos, além de apresentado seu próprio texto paralelo. Assim, quando se iniciou a COP 15, tinha-se dois textos anteriores e não oficiais, que acabaram vazando e dando numa enorme crise de confiança que persiste até hoje e que se manifesta em recorrentes desconfianças mútuas. Sem esquecer que tudo aqui é negociado e decidido por consenso. Isto é, a pequenina Tuvalu, uma ilha perdida no... Leia Mais

Mudanças climáticas: Recife, Pernambuco e o desastre anunciado

Eu perguntei hoje ao ministro Carlos Minc, a Míriam Leitão e a Sérgio Abranches sobre algum programa para cidades costeiras e o semi-árido da COP 15.  A reposta foi uma só: não, não existe. Não tem grana para mitigação ou adequação, os programas chave, sobretudo o segundo, para os nossos maiores problemas. Todos, também, foram unânimes em reconhecer que vamos ter problemas muito graves com as mudanças climáticas. O semi-árido, como já dissera o ministro Carlos Minc, será uma das regiões mais atingidas, pois terá menos chuva e mais calor. Já o Recife será uma das duas cidades mais afetadas pela elevação da temperatura média da terra e consequente subida de nível dos oceanos. E nenhum governador, nenhum prefeito de capital do nordeste está ou esteve aqui, que eu saiba. Inclusive, claro, o prefeito do Recife e o governador de Pernambuco. Talvez se aqui estivessem, e de modo articulado com os demais prefeitos e governadores, algo pudesse ser tentado. Uma grande comitiva de chefes de governos sub-nacionais de todo mundo está aqui, isto é, governadores e prefeitos. Inclusive, o governador de São Paulo, José Serra, o da California, Arnold Shwazenegger, o prefeito de Quebec  etc, e todos os governadores da Amazônia. Nós, não. Nós que temos o semi-árido com maior população do mundo, e que será dramaticamente atingido, sem apelação, não estamos presentes. Ninguém aqui, titular de executivo, para lutar por nós, defender nossos interesses…   Fiquei sabendo que existe um fundo nacional, cuja fonte de recursos é o petróleo, voltado para os impactos das mudanças climáticas em curso. É urgente que nos organizemos para acessá-lo, enquanto é tempo.... Leia Mais
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