Situação explosiva | Raul Jungmann

Situação explosiva

Terminou agora o briefing do embaixador Luiz Fernando Figueiredo, negociador chefe da delegação brasileira. Resumidamente, ele disse o seguinte:

“Essa é a maior COP até agora. Vamos ter mais nações e chefes de estado que na Rio 92. Quem conhece essas conferências, sabe que o dia de quarta é o mais tenso, o mais difícil. Depois, na quinta-feira,. começa a melhorar e se resolve, algo sempre se resolve na sexta”.

Por aqui esta mais difícil. É que não se construiu um clima de confiança, de reciprocidade mútua, então fica mais difícil. Nós tivemos uma quebra de confiança grave. E tem também o problema da condução. A condução por parte dos anfitriões tem que ser mais firme, mais direta, orientar de fato.

Aqui as coisas funcionam como partido no Congresso. Tem o nosso partido, o dos 77, que reúne mais de 120 países, tão dispares entre si que tem o pessoal das ilhas, que pode perder tudo com o avanço do mar e tem também os países petroleiros, que estão no pólo oposto. Mas tem dado para caminhar. Tem o pessoal do guarda-chuva, que e liderado pelos EUA, mais Ucrânia, Austrália, Canadá etc. E tem os nanicos também, como o grupo da integridade, que tem o México, Suíça, Mônaco e Coréia.

Agora, o grupo dos 77, ao qual pertencemos, tem muita desconfiança, tem medo dos países ricos, de levar rasteira.Não tem nada em cima da mesa, não. Não tem metas vinculantes, não tem grana para fundos de médio e longo prazos. Ai, as pessoas estão muito nervosas, o clima está tenso, a situaçao está explosiva. Porque tem delegação que pode abandonar, tem boicote, pode ter qualquer coisa!

 

Nesse quadro, o papel do Brasil é costurar, é explicar, é ajudar a construir confiança. Não está fácil. A China melhorou muito. Nós temos, sim, uma aliança com a França, e isso é muito importante porque faz a ponte com a União Européia.

Agora, os EUA, eu ouvi do Todd Stern, o negociador chefe deles, eu ouvi que eles só assinam dizendo que a meta deles e de 17% sobre 2005 e desde que o senado americano aprove. O que é pouco. E tem a Europa, que quer migrar, que quer passar de Kioto para um novo protocolo, um novo acordo com os demais e os EUA e ai vamos pro espaço.

Bem, os chefes de estado estão aqui, e isso nos da uma esperança. Os chefes de estado podem dar uma nova dinâmica às coisas, podem ajudar a sair desse impasse…

Raul Jungmann, de Copenhague