ARTIGOS | Raul Jungmann
Artigos escritos por Raul Jungmann

Agenda de hoje, 16 de dezembro, na COP 15

Ontem tivemos a abertura da etapa “política” da Conferência, com os discursos de Ban Ki-Mon, Connie Heregaard, Iwo de Boer, Principe Charles e a prêmio nobel da paz de 2004, Wangari Maathai, do Quênia. Hoje, com o comparecimento dos chefes de estado, a COP entra em sua fase decisiva. Me disse o embaixador Sérgio Serra, um dos coordenadores da delegação brasileira, que os dois textos básicos a serem apreciados pelos líderes dos paises presentes, o que se refere ao protocolo de Kioto e o da convenção do clima, só estariam prontos essa madrugada, após uma noite de negociações. O que não era bom sinal. Ontem, boa parte das negociações estavam travadas. Os seis grupos negociadores estavam praticamente paralisados, após dois baques consecutivos: a retirada, seguida de retorno, dos africanos e o boato recorrente que se tinha um “novo” texto sendo negociado pelos países ricos com alguns em desenvolvimento. Aliás, essa paranóia de textos secretos ou paralelos, deve-se, em boa medida ao país anfitirão, a Dinamarca. Mês passado, quando Barack Obama encontrava-se em visita a Ásia, o primeiro minnistro dinamarques teria levado um texto não oficial a conhecimento da China e dos EUA. Os chineses não teriam gostado nada das propostas e vazado para indianos, brasileiros e sulafricanos, além de apresentado seu próprio texto paralelo. Assim, quando se iniciou a COP 15, tinha-se dois textos anteriores e não oficiais, que acabaram vazando e dando numa enorme crise de confiança que persiste até hoje e que se manifesta em recorrentes desconfianças mútuas. Sem esquecer que tudo aqui é negociado e decidido por consenso. Isto é, a pequenina Tuvalu, uma ilha perdida no... Leia Mais

Mudanças climáticas: Recife, Pernambuco e o desastre anunciado

Eu perguntei hoje ao ministro Carlos Minc, a Míriam Leitão e a Sérgio Abranches sobre algum programa para cidades costeiras e o semi-árido da COP 15.  A reposta foi uma só: não, não existe. Não tem grana para mitigação ou adequação, os programas chave, sobretudo o segundo, para os nossos maiores problemas. Todos, também, foram unânimes em reconhecer que vamos ter problemas muito graves com as mudanças climáticas. O semi-árido, como já dissera o ministro Carlos Minc, será uma das regiões mais atingidas, pois terá menos chuva e mais calor. Já o Recife será uma das duas cidades mais afetadas pela elevação da temperatura média da terra e consequente subida de nível dos oceanos. E nenhum governador, nenhum prefeito de capital do nordeste está ou esteve aqui, que eu saiba. Inclusive, claro, o prefeito do Recife e o governador de Pernambuco. Talvez se aqui estivessem, e de modo articulado com os demais prefeitos e governadores, algo pudesse ser tentado. Uma grande comitiva de chefes de governos sub-nacionais de todo mundo está aqui, isto é, governadores e prefeitos. Inclusive, o governador de São Paulo, José Serra, o da California, Arnold Shwazenegger, o prefeito de Quebec  etc, e todos os governadores da Amazônia. Nós, não. Nós que temos o semi-árido com maior população do mundo, e que será dramaticamente atingido, sem apelação, não estamos presentes. Ninguém aqui, titular de executivo, para lutar por nós, defender nossos interesses…   Fiquei sabendo que existe um fundo nacional, cuja fonte de recursos é o petróleo, voltado para os impactos das mudanças climáticas em curso. É urgente que nos organizemos para acessá-lo, enquanto é tempo.... Leia Mais

O nome do jogo

O ministro do meio ambiente da Índia, Jairam Ramash, afirmou um segredo de policihinelo, que todos aqui sabíamos. Os 37 países do anexo I do protocolo assinado em 1997, as nações desenvolvidas, querem pular fora do que se convencionou chamar de um dos “trilhos”, Kioto, e aderir ao segundo dos “trilhos”, o da Convenção do Clima, que fixará as metas para os demais países, incluso os EUA que não aderiram ao protocolo. Está estabelecida uma grande confusão. Se o pessoal que assinou Kioto conseguir migrar para o “trilho” da convenção do clima, perde-se o único acerto entre as nações desenvolvidas juridicamente vinculante, isto é, que pode ser aferido e cobrado. É a geléia geral. De quebra, fica-se a ver navios por parte dos não industrializados, Brasil incluso, em termos de grana para ações de mitigação e, em especial, adequação das emissões de CO2 que geram o efeito estufa e aquecem a terra. Tem gente a chando que se os 37 puderem passar para o “trilho dois”, é provável que as burras dos seus tesouros nacionais se abram para nosotros, num trade-off mutuamente gratificante para ambos os lados. Não acredito. Aqui, tudo é global, por consenso ou não é. E se os paises em desenvolvimento não viram nada ainda em termos de grana, porque iriam abrir mão do único trunfo que tem, que é Kioto? De mais a mais, fazer com que todos e não apenas alguns, concordem com a migração das nações industrializadas para a convenção do clima é pouquíssimo provável. A verdade é que por debaixo de toda a falação ambiental etc e tal, existe uma questão economica... Leia Mais

Situação explosiva

Terminou agora o briefing do embaixador Luiz Fernando Figueiredo, negociador chefe da delegação brasileira. Resumidamente, ele disse o seguinte: “Essa é a maior COP até agora. Vamos ter mais nações e chefes de estado que na Rio 92. Quem conhece essas conferências, sabe que o dia de quarta é o mais tenso, o mais difícil. Depois, na quinta-feira,. começa a melhorar e se resolve, algo sempre se resolve na sexta”. Por aqui esta mais difícil. É que não se construiu um clima de confiança, de reciprocidade mútua, então fica mais difícil. Nós tivemos uma quebra de confiança grave. E tem também o problema da condução. A condução por parte dos anfitriões tem que ser mais firme, mais direta, orientar de fato. Aqui as coisas funcionam como partido no Congresso. Tem o nosso partido, o dos 77, que reúne mais de 120 países, tão dispares entre si que tem o pessoal das ilhas, que pode perder tudo com o avanço do mar e tem também os países petroleiros, que estão no pólo oposto. Mas tem dado para caminhar. Tem o pessoal do guarda-chuva, que e liderado pelos EUA, mais Ucrânia, Austrália, Canadá etc. E tem os nanicos também, como o grupo da integridade, que tem o México, Suíça, Mônaco e Coréia. Agora, o grupo dos 77, ao qual pertencemos, tem muita desconfiança, tem medo dos países ricos, de levar rasteira.Não tem nada em cima da mesa, não. Não tem metas vinculantes, não tem grana para fundos de médio e longo prazos. Ai, as pessoas estão muito nervosas, o clima está tenso, a situaçao está explosiva. Porque tem delegação que pode... Leia Mais

Agenda de hoje, 16 de dezembro, na COP 15

Ontem tivemos a abertura da etapa “política” da Conferência, com os discursos de Ban Ki-Mon, Connie Heregaard, Iwo de Boer, Principe Charles e a prêmio nobel da paz de 2004, Wangari Maathai, do Quênia. Hoje, com o comparecimento dos chefes de estado, a COP entra em sua fase decisiva. Me disse o embaixador Sérgio Serra, um dos coordenadores da delegação brasileira, que os dois textos básicos a serem apreciados pelos líderes dos paises presentes, o que se refere ao protocolo de Kioto e o da convenção do clima, só estariam prontos essa madrugada, após uma noite de negociações. O que não era bom sinal. Ontem, boa parte das negociações estavam travadas. Os seis grupos negociadores estavam praticamente paralisados, após dois baques consecutivos: a retirada, seguida de retorno, dos africanos e o boato recorrente que se tinha um “novo” texto sendo negociado pelos países ricos com alguns em desenvolvimento. Aliás, essa paranóia de textos secretos ou paralelos, deve-se, em boa medida ao país anfitirão, a Dinamarca. Mês passado, quando Barack Obama encontrava-se em visita a Ásia, o primeiro minnistro dinamarques teria levado um texto não oficial a conhecimento da China e dos EUA. Os chineses não teriam gostado nada das propostas e vazado para indianos, brasileiros e sulafricanos, além de apresentado seu próprio texto paralelo. Assim, quando se iniciou a COP 15, tinha-se dois textos anteriores e não oficiais, que acabaram vazando e dando numa enorme crise de confiança que persiste até hoje e que se manifesta em recorrentes desconfianças mútuas. Sem esquecer que tudo aqui é negociado e decidido por consenso. Isto é, a pequenina Tuvalu, uma ilha perdida no... Leia Mais

Barack Obama, o salvador do futuro

Ao novo presidente dos EUA se atribuem dons especiais, sobretudo de oratória, alem, é claro, da sua vitória e o que ela representa. Aqui em Copenhague não é diferente. Comenta-se que o presidente dos EUA, que chega aqui na sexta-feira, traria três boas novas. Em primeiro lugar, a ampliação das metas de redução de emissões de gases estufa de 17 para 20%, já negociada com o senado americano. Segundo, a tão esperada grana para os fundos de médio e longo prazos, que até agora, ao contrário dos de curto, não viram um dólar real, só promessas. Se confirmada essa oferta, ela teria o condão de destravar a oferta da União Européia, que, dizem, teria dinheiro e disposição para investir muito mais em programas de adequação e mitigação, a espera de um gesto dos EUA, o que até aqui não teria acontecido. Por fim, muitos dão de barato duas coisas mais. Uma que a EPA, o IBAMA dos Estados Unidos, tendo decretado que o gás CO2 faz mal a saúde, poderia, executivamente, cortar muito além dos 20% as emissões americanas sem ter que passar pelo sempre conservador congresso dos EUA. Segundo, que Obama anunciaria um programa de cortes bem mais ousado que os 17 ou 20% ate 2020, para o período seguinte que  vai até 2050. É ver para crer. Raul Jungmann, de... Leia Mais
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