SAÚDE: CONTRA FATOS, NÃO HÁ ARGUMENTOS! | Raul Jungmann

SAÚDE: CONTRA FATOS, NÃO HÁ ARGUMENTOS!

Após a ausência do secretário de Saúde do Recife, Jailson Correia, na audiência pública que iríamos realizar na quinta-feira da semana passada, a Secretaria enviou nota à imprensa com “estórias” para lá de bonitas sobre o sistema de atenção básica. Essa desconexão entre o discurso e a realidade comprova que ou o monitoramento da própria Prefeitura do Recife apresenta falhas ou há uma tentativa de distorcer os fatos.

 Remarcamos por duas vezes a data da audiência pública para que ela se adequasse à agenda do secretário. Na terceira vez data escolhida, o secretário confirmou presença. Porém, no dia da Audiência, ele faltou e mandou representantes no seu lugar, sob a alegação de que tinha outra prioridade na data e horário marcado. Desconsiderou, dessa forma, o promotor Clóvis Sodré, da Promotoria de Saúde do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), e os coordenadores do Conselho Municipal de Saúde, que estiveram presentes.

 Essa postura, porém, não apenas nos atingiu, como também foi um desrespeito à própria Câmara Municipal do Recife, que procura debater assuntos de amplo interesse da sociedade com o Executivo. Vamos tentar novamente reagendar uma data, pois queremos a participação dele nas nossas discussões.

 Sobre a nota, seguem as nossas considerações para que você possa tirar suas próprias conclusões se o que publicaram corresponde à realidade:

 1. De acordo com a Secretaria de Saúde, a distribuição de ficha foi extinta nas Unidades de Saúde da Família (USFs), após implantação do Serviço de Acolhimento Humanizado. Nas fiscalizações que fazemos semanalmente nas unidades, vemos que essa informação não procede. Recebemos inúmeras reclamações quanto ao número limitado de fichas, a exemplo da USF Josué de Castro, no Ibura, no qual mais de 30 pessoas costumam esperar na fila, porém são distribuídas apens 15 senhas por dia. Também observamos que o acolhimento humanizado não garante o atendimento.

 2. Divulgou-se ainda que a demora para realizar exames pode ocorrer em casos mais complexos. Entretanto, na pesquisa inédita de satisfação dos usuários, que fizemos no final do ano passado, comprovou-se que existe uma disparidade entre as USFs quanto ao tempo de espera por consulta com especialistas e para a realização de exames, em uma nítida ineficiência da gestão. O tempo varia muito de uma para outra. Citando novamente a USF José de Castro, vimos que as consultas não estavam sendo marcadas há 40 dias por problemas na internet.

 3. A Secretaria também publicou que o número de equipes de Estratégia da Saúde da Família subiu 257 para 262 e, até 2016, serão 316 equipes. O Relatório Anual de Gestão, elaborado pela própria pasta e aprovado pelo Conselho Municipal de Saúde revela que a meta era ampliar o número de equipes de 257 para 282 em 2013, porém só chegou ao final do ano passado com 261.

 4. Sobre esse relatório, a Secretaria comunicou que as metas foram estabelecidas em 2012, e, ao assumir a nova gestão, pactuou novas metas levando em conta o Plano de Governo. Além disso, investiu, em 2013, R$ 40 milhões, maior do que a média histórica nos últimos seis anos. Das metas que constam no relatório – volto a dizer – elaborado pela própria Secretaria, apenas 42% foram atingidas. Ora, como justificar um investimento tão alto com baixa execução das metas? Isso ninguém explicou. Mas vamos cobrar essa e outras explicações quando realizarmos a audiência pública. Podem esperar!