Refinaria Abreu e Lima: qual é a verdade? | Raul Jungmann

Refinaria Abreu e Lima: qual é a verdade?

Enquanto a ministra Dilma Roussef “inaugurava” uma ordem de serviço da 1ª etapa da casa de força da refinaria Abreu e Lima, a Petrobrás anunciava seu plano de investimentos para os anos de 2009 a 20013. Neste plano, de forma muito discreta, informava o adiamento da entrada em operação da unidade de refino em Pernambuco de 2010 para 2011.

Fiquei sabendo do adiamento por acaso. Eu concederia uma entrevista logo cedo na rádio CBN sobre o assunto e fui me informar acerca do plano de investimentos da nossa petroleira, o qual, previsto para setembro, fora adiado três vezes. Vira e mexe, achei o dado no site da empresa. Saí catando amigos jornalistas que tivessem coberto a “inauguração”, para saber se alguém havia noticiado algo sobre a mudança de data. Ao localizar um jornalista, contei-lhe sobre o adiamento e ele, surpreso, me informou que nada havia sido falado sobre isso.  

Um dia antes, na quinta-feira, eu dera entrevista criticando a dita “inauguração”. Isto porque já perdera a conta das inaugurações anteriores, das visitas, das festas, dos lançamentos, das pedras fundamentais etc, desta e de outras obras federais que, “inauguradas” incansavelmente, jamais conseguem ser concluídas e entregues. 

É só contar semanalmente o número de vezes em que a Transnordestina, o Hemocentro, a Transposição do Rio São Francisco, nova linha do Metrorec, entre outras obras, recebem anúncios festivos de suas etapas, fases, serviços, contratações, recursos, licitações, ordens de serviço, orçamentos, suplementações, visitas, infraestrutura, fiscalizações, aditivos e metas. 

Chegou-se a uma situação em que nós temos um canteiro de “obras em processo” – obras estas que nunca terminam. Ou uma única “obra aberta”, como diria Umberto Eco, espalhada por vários canteiros. A tal ponto chega a coisa, que desconfio e parafraseio Lampedusa, as ditas obras “quanto mais se concluem, menos acabam”. Ou seja, elas são uma espécie de rampa de lançamento, um “Cabo Canaveral”, de onde são disparadas candidaturas, como a da ministra de um governo que jamais desce dos palanques.

Em verdade, elas não podem acabar nunca, ao que parece, como fantástico artefato político e de propaganda que são.

Veja-se o caso do presidente Hugo Chávez e da PDVSA. Perdemos a conta das vezes em que ele esteve aqui, com Lula, sem Lula, lá na Venezuela, em outros cantos do Brasil e mundo afora, “inaugurando” a refinaria em homenagem a um dos generais, Abreu e Lima, que acompanharam o libertador Simon Bolívar até o fim.  

Pois bem, Chávez e PDVSA sumiram e com eles os dólares inabalavelmente assegurados. Restou de toda grandiosa e infinita série de eventos inaugurais o nome da refinaria como escolha unilateral do nosso mecenas. E nada mais.  

Já a Petrobrás, ao que tudo indica, lançou ao éter um plano mirabolante de investimentos. Com a queda do preço do barril de petróleo para US$ 38 dólares e o crédito escasso mundo afora, a nossa petroleira resolveu pegar uns cobres no Banco do Brasil, na Caixa Econômica Federal e, agora, até no BNDES. O incremento do novo plano, frente ao anterior, foi de 55%, passando de US$ 112 para US$ 174 bi. Mas a empresa revelou-se incapaz de responder a um requerimento meu aonde perguntávamos, dentre outras coisas, qual o cronograma de desembolso financeiro da nova refinaria em Pernambuco. Isso tudo não prima pela consistência, certamente.  

Inaugurações são atos públicos de entrega de obras e serviços à comunidade. Obras e serviços que, por melhorarem as nossas vidas, são motivo de justas festividades. Mas o que está acontecendo em Pernambuco com as obras federais é um total desvirtuamento dessa concepção. 

Aqui, as “etapas” e “metas” cumpridas são a instrumentalização das esperanças e sonhos de todos nós para fins de propaganda e criação de um clima artificial de que as coisas “vão bem”. 

Nesse andar da carruagem não estará distante o dia em que atingiremos o grotesco e “inauguraremos” coisa alguma. Será a inauguração da milionésima inauguração, quando será entregue à população o Nada.

Toda vez que se instrumentaliza o sonho, o desejo ou esperanças, desrespeita-se o outro. Toma-se a esse outro, seja um indivíduo ou uma comunidade, como meio e não como fim. 

Se temos problemas com a refinaria Abreu e Lima ou com quaisquer obras outras, cabe ao governo federal vir a público e nos informar qual é a real situação.

Tem legitimidade e liderança o governador Eduardo Campos para reunir, uma vez mais, governo e oposição, em nome dos superiores interesses de Pernambuco. E cobrarmos, todos juntos, o andamento e a conclusão destas obras. Para o bem do nosso Estado, para o bem dos pernambucanos.

Posso afirmar que, caso necessário, o governador Eduardo Campos contará com nosso irrestrito apoio. Temos cultura política acumulada para superarmos nossas divisões em nome do bem estar dos pernambucanos.

Mas queremos saber a verdade: de fato, qual é a situação real da refinaria Abreu e Lima? 

Chega de “inaugurações” de papel.