O nome do jogo | Raul Jungmann

O nome do jogo

O ministro do meio ambiente da Índia, Jairam Ramash, afirmou um segredo de policihinelo, que todos aqui sabíamos. Os 37 países do anexo I do protocolo assinado em 1997, as nações desenvolvidas, querem pular fora do que se convencionou chamar de um dos “trilhos”, Kioto, e aderir ao segundo dos “trilhos”, o da Convenção do Clima, que fixará as metas para os demais países, incluso os EUA que não aderiram ao protocolo. Está estabelecida uma grande confusão.

Se o pessoal que assinou Kioto conseguir migrar para o “trilho” da convenção do clima, perde-se o único acerto entre as nações desenvolvidas juridicamente vinculante, isto é, que pode ser aferido e cobrado. É a geléia geral. De quebra, fica-se a ver navios por parte dos não industrializados, Brasil incluso, em termos de grana para ações de mitigação e, em especial, adequação das emissões de CO2 que geram o efeito estufa e aquecem a terra.

Tem gente a chando que se os 37 puderem passar para o “trilho dois”, é provável que as burras dos seus tesouros nacionais se abram para nosotros, num trade-off mutuamente gratificante para ambos os lados. Não acredito. Aqui, tudo é global, por consenso ou não é. E se os paises em desenvolvimento não viram nada ainda em termos de grana, porque iriam abrir mão do único trunfo que tem, que é Kioto? De mais a mais, fazer com que todos e não apenas alguns, concordem com a migração das nações industrializadas para a convenção do clima é pouquíssimo provável.

A verdade é que por debaixo de toda a falação ambiental etc e tal, existe uma questão economica de capitais dimensões. A regulação do efeitos sobre o clima, direta e indiretamente, será também uma regulação sobre capitais e investimentos nunca vista. Das decisões tomadas, teremos paises mais ou menos competitivos, idem setores mais ou menos lucrativos, os que sobreviverão e os que perecerão.

 

É, portanto, um jogo de trilhões de dolares, economias, cadeias e segmentos inteiros que estão em jogo por detrás da frase batida da “conversão do modo de produzir e consumir” que todos (aparentemente) dizem buscar.

Quem ganha e quem perde nesse macro jogo econômico, esse é o nome do jogo.

Raul Jungmann, de Copenhague