DIÁRIO DE VIAGEM II – “Lembra de mim, ministro?” | Raul Jungmann

DIÁRIO DE VIAGEM II – “Lembra de mim, ministro?”

Ao apertar minha mão estendida, ele perguntou: “lembra-se de mim, ministro?” Enquanto eu tentava recordar de onde nos conhecíamos, emendou: “Marcial, do MST”. Com um walkie-talkie na mão esquerda, cabelos longos presos num rabo de cavalo, sandálias e camisa de mangas curtas, diante de mim estava o secretário particular do presidente paraguaio Fernando Lugo, Marcial Congo. Ex-padre franciscano, dois filhos e, disse-me em seguida, dirigente histórico do movimento sem terra no Rio Grande do Sul. Meu conhecido dos tempos em que fui ministro da Reforma Agrária do governo FHC. Na cintura, uma imensa pistola calibre 45, para surpresa de todos. 

Estávamos no Mburuvicha Roga, residência oficial do presidente do Paraguai e que durante décadas fora ocupada por Alfredo Stroessner, o velho ditador já falecido. De pé, embaixador Eduardo Santos à frente, aguardávamos a chegada do presidente Lugo quando, alguns minutos após, fomos chamados ao aposento ao lado e, em seguida, sorridente, o ex-bispo da província de San Pedro nos cumprimentou um a um.

Alto e corpulento, o presidente Lugo é afável e direto. Gentil, tomou nota de todas as perguntas que lhe fizemos, a começar pelo chefe da missão, Marcondes Gadelha.

Quando me tocou a vez, fui ao ponto que nos interessa: o depósito, na ALADI, do acordo do Mercosul sobre residência e migrações, último elo para que entre em vigor a cláusula jurídica que permita a regularização dos “brasiguaios” – a mesma pergunta que fizéramos horas antes ao seu chanceler e que ele, Lugo, também não iria responder.

A seguir:

 DIÁRIO DE VIAGEM III – “Estamos estudando isso, não?”