América do Sul: de volta à guerra fria? | Raul Jungmann

América do Sul: de volta à guerra fria?

O presidente da Rússia, Vladimir Putin e o da Venezuela, Hugo Chávez, assinaram 31 acordos durante recente visita do mandatário russo ao nosso vizinho. Três deles são, digamos, muito interessantes.

O primeiro deles estabelece uma parceria entre a PDVSA, a petroleira venezuelana, e suas congêneres russas, para a exploração dos campos petrolíferos do Orinoco, aonde estima-se existam reservas de 531 bilhões de barris, as maiores do mundo. Essa mesma parceria vem sendo tentada pela Petrobrás, sem sucesso até aqui. Insucesso que se repete na criação da binacional refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, que infelizmente, não sai do papel.

O segundo dos acordos, sobre “security”, entre russos e venezuelanos, pouco se sabe. Comenta-se que ele incluiria transferência de “know how” aos chavistas para fins de reforçar as suas capacidades de geração e análise de informações, num momento em que Chávez “desce a ladeira” do apoio popular e se avizinham às eleições legislativas de setembro.

Por fim, a cereja do bolo: Chávez e Putin anunciaram a intenção de cooperarem na área de energia atômica. Mas, para fins pacíficos, declara “el comandante”.

De quebra, o presidente Evo Morales, presente ao encontro, pediu uma maior presença dos russos na América Latina, e que Rússia e Bolívia venham a firmar acordos nos campos de energia e defesa.

Muito bem. Com colombianos cedendo as suas bases para os norte-americanos e os russos vendendo mais de US$ 4,4 bi em armas aos venezuelanos, temos nas nossas fronteiras um “revival” da ”cold war”, a guerra fria, que todos julgávamos morta e enterrada após a queda do muro de Berlim e o desmanche da URSS! Não é fantástico?

Enquanto isso, o presidente Lula foi ao Oriente Médio e logo mais visitará o Irã, tentando assumir a condição de “player” global em assuntos totalmente distantes de nossa área tradicional de influência, a América do Sul. A qual é tomada de assalto comercialmente pelos chineses, em detrimento das nossas empresas, e torna-se campo de disputa de zonas de influência entre russos e americanos.

Parabéns ao Itamaraty e ao presidente Lula!