O Panorama Político, coluna do jornal O Globo, do dia 20 p.p., trazia em uma nota cujo título era “Milhagem”, um suposto diálogo meu com o presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, em que este, se dirigindo a mim, teria dito: “Você não acha que vai mais atrapalhar que ajudar? A idéia é meritória, mas lá tá precisando de gente que pegue na picareta”.
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Como jamais tive esse diálogo com o presidente Temer, liguei para ele. Michel então me afirmou que não reproduzira nossa conversa para o jornalista responsável pela coluna Panorama e, sim, fizera um comentário sobre o que ele, Temer, considerava prioridade para o Haiti, naquele momento.
Ocorre que na semana anterior, por telefone, propus a ele iniciativas referentes à tragédia do Haiti, dentre outras uma comissão geral para discutir o papel do Brasil na recuperação do país e os objetivos da Minustah.
A certa altura da conversa, indaguei-lhe da conveniência de se mandar uma missão externa composta por deputados para verificar a situação, incluso do nosso pessoal lá, visando subsidiar as discussões que teríamos que realizar. Afinal, todas ou quase todas as decisões futuras referentes à nossa permanência naquele país, recursos, etc da missão de paz que coordenamos, teriam que ser aprovadas pela Câmara.
Foi então que o presidente Temer nos disse do seu interesse de ir lá e nos pediu que entrássemos em contato com o Ministério da Defesa, dada nossa condição de membro da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, de modo a verificar as condições e oportunidade da nossa ida ao Haiti, o que fiz em seguida.
No telefonema seguinte, ao lhe reportar as informações que nos foram pedidas, afirmou o Presidente que desistira de se deslocar a Porto Príncipe, mas que, caso quiséssemos, poderíamos realizar a missão externa com o seu apoio e na qualidade de observador da Câmara dos Deputados.
Estes os fatos, sem terremoto que soterre a verdade, nem o uso de picaretas que a desfigure.
Raul Jungmann