Um gigante verde | Raul Jungmann

Um gigante verde

CIÊNCIA/MEIO AMBIENTE – ALERTA VERDE / JC 05 de junho de 12

Hoje, Dia Mundial do Meio Ambiente, o JC encerra série de reportagem sobre o que resta de mata atlântica no Recife mostrando uma área ameaçada e outra protegida. A primeira, na Guabiraba, Zona Norte, abriga a maior das 27 unidades de conservação municipais, mas sofre com o desmatamento. O contraponto, na Zona Oeste, se mantém de pé graças ao Exército. Veja também a programação comemorativa do dia, criado pelas Nações Unidas, durante a primeira conferência de meio ambiente da ONU, em Estocolmo, na Suécia, iniciada em 5 de junho de 1972.

 

CIÊNCIA/MEIO AMBIENTE – ALERTA VERDE / JC 05 de junho de 12

Hoje, Dia Mundial do Meio Ambiente, o JC encerra série de reportagem sobre o que resta de mata atlântica no Recife mostrando uma área ameaçada e outra protegida. A primeira, na Guabiraba, Zona Norte, abriga a maior das 27 unidades de conservação municipais, mas sofre com o desmatamento. O contraponto, na Zona Oeste, se mantém de pé graças ao Exército. Veja também a programação comemorativa do dia, criado pelas Nações Unidas, durante a primeira conferência de meio ambiente da ONU, em Estocolmo, na Suécia, iniciada em 5 de junho de 1972.

Com 3.674 hectares, a Unidade de Conservação da Natureza (UCN) Beberibe, fica no bairro da Guabiraba, na Zona Norte do Recife, em meio a chácaras, motéis e, mais recentemente, condomínios fechados. O principal acesso à área protegida em 1996 por lei municipal regulamentada em 2008 é a PE-016, conhecida como Estrada de Mumbeca.
No km 2,8 da rodovia estadual, uma cerca que se estende até o km 5 chama a atenção. Ao longo de toda a extensão, de 2,2 quilômetros, placas informam que a propriedade é uma área de soltura da fauna silvestre e abriga animais perigosos. Do lado de dentro, no entanto, o que se vê são extensas áreas descampadas, muitas delas com árvores recém-cortadas tombadas.

Na portaria principal da propriedade, denominada Santuário dos Três Reinos, um funcionário uniformizado é enfático. O dono não quer filmagem aqui dentro, não. Só quem tem acesso é o Ibama, para soltar os bichos. Nem Cipoma nem guardas ambientais do Recife podem entrar, diz o funcionário, que se recusa a fornecer o nome.

Monolitos se espalham nas clareiras. São esculturas enormes em granito, algumas com formas humanas. Vai ser um parque aqui, mas o dono não quer que divulgue. Minha filha estuda jornalismo e pediu para fazer o trabalho de conclusão de curso com fotografias das esculturas e ele não deixou, relata. O nome dele? Não posso dizer, afirmou, por telefone, um encarregado com quem o funcionário entrou em contato.

Na descrição da Prefeitura do Recife, a UCN Beberibe está localizada nas bacias hidrográficas dos Rios Paratibe e Beberibe. Apresenta vegetação de capoeira, de capoeirinha, cultura de subsistência e canavial, diz release da Secretaria de Meio Ambiente.

Das 11 unidades de conservação cobertas por mata atlântica   ao todo são 27 em nível municipal   a Beberibe é a mais extensa. Ou seja, esse é o maior remanescente de floresta da capital. E também um dos mais ameaçado pela expansão urbana.

De acordo com levantamento recente do Instituto Pelópidas Silveira, vinculado à prefeitura, a Guabiraba abriga o maior maciço de cobertura vegetal do município. E ainda o segundo maior percentual de verde por habitante: cerca de 5 mil m² para cada morador. Em todos os rankings feitos pelo mapa do verde urbano no Recife, o lugar aparece em posição privilegiada.

A Estrada de Mumbeca, com seis metros de largura e 13,5 quilômetros, divide ao meio o maior maciço verde protegido, pelo menos no papel, do Recife. Pavimentada há pouco mais de um ano, a via se prolonga do km 57 da BR-101 Norte até o km 12 da PE-27, mais conhecida como Estrada de Aldeia, no município de Camaragibe.

A ocupação do lugar é regulamentada pelo decreto municipal nº 23.804, de 23 de julho de 2008. Segundo a norma, a altura dos imóveis não pode ultrapassar sete metros. O decreto também proíbe a divisão dos terrenos em lotes. E o artigo 6º determina que os novos imóveis devem contar com reservatórios para acumulação de água de chuva (captada no telhado) e sistemas eficientes de coleta e tratamento de esgoto.

Exemplo de resistência e proteção

Desde 1973, quando passou às mãos do Exército, um remanescente de mata atlântica do Curado, Zona Oeste do Recife, recebeu cerca e vigilância constante. A altura das árvores  muitas com 30 metros  e a copa fechada comprovam que, se protegida de fato, uma floresta se mantém em pé mesmo quando sofre a pressão urbana.
A propriedade militar, com 340 hectares, compreende 15 quartéis. O cinturão verde se estende do Engenho do Meio ao Curado. De acordo com a prefeitura, a área se insere em duas Unidades de Conservação da Natureza (UCN).

Uma é intitulada Matas do Curado, criada em 1996, regulamentada em 2008 e tem 409,88 hectares. A outra é a UCN Curado, tem o mesmo histórico legal e ocupa 113,66 hectares. Ambas abrangem uma unidade de conservação estadual o Refúgio de Vida Silvestre Mata do Curado  com 102,96 hectares.

Inserida no complexo militar do Curado, a mata é palco de exercícios de instrução. Para o Comando Militar do Nordeste, sediado em uma das edificações do lugar, o uso contribui para a conservação da floresta.

O fato de ser cercada e contar com patrulhas motorizadas e postos de vigilância deixa a floresta imune a caçadores e grileiros. Os exercícios militares permitem fazermos uma avaliação constante da mata e também marcarmos presença no terreno, diz o major Danilo Hereda, oficial adjunto da sessão de Comunicação Social do Comando Militar do Nordeste, que abrange nove Estados, do Maranhão à Bahia.