No Recife, terra de cego, basta um olho para ser prefeito ou rei | Raul Jungmann

No Recife, terra de cego, basta um olho para ser prefeito ou rei

“ARTIGO ÁCIDO DE BAHÉ, MAS BOM. EU RECOMENDO”
22, 2012  / Marco Bahé  : Política /
Viver na maior pequena cidade do mundo tem suas qualidades e seus defeitos. Uma ‘vantagem’ evidente é que basta realizar qualquer relativa proeza para virar celebridade e desposar dos benefícios que desse pseudo-status advêm.  Um só filme selecionado num festival por aí e o cara já vira cineasta, com direito a capa nos cadernos de cultura (cultura???) dos jornais locais. Um show com 200 pessoas (80% de pernambucanos exilados) em São Paulo é sucesso em turnê. Um estágio no Vale do Silício e temos um novo gênio de tecnologia da informação. Um papel secundário numa novela global e se entra para a calçada da fama recifiana. Um blog mais ou menos acessado e… ehehehehe.

 

“ARTIGO ÁCIDO DE BAHÉ, MAS BOM. EU RECOMENDO”
22, 2012  / Marco Bahé  : Política /
Viver na maior pequena cidade do mundo tem suas qualidades e seus defeitos. Uma ‘vantagem’ evidente é que basta realizar qualquer relativa proeza para virar celebridade e desposar dos benefícios que desse pseudo-status advêm.  Um só filme selecionado num festival por aí e o cara já vira cineasta, com direito a capa nos cadernos de cultura (cultura???) dos jornais locais. Um show com 200 pessoas (80% de pernambucanos exilados) em São Paulo é sucesso em turnê. Um estágio no Vale do Silício e temos um novo gênio de tecnologia da informação. Um papel secundário numa novela global e se entra para a calçada da fama recifiana. Um blog mais ou menos acessado e… ehehehehe. 

Em meados da década de 1970, Erving Goffman lançou um livro considerado um clássico da psicologia social: A Representação do Eu na Vida Cotidiana. O livro fala da ação teatral do indivíduo, que tenta manipular a impressão que seus semelhantes têm dele através do desempenho de um papel que reforce a imagem que este indivíduo quer apresentar de si mesmo. Se vivo fosse, Goffman estaria deitando e rolando em cima do Facebook, onde todo mundo é sensível, educado, inteligente, defensor dos animais e do meio ambiente, odeia falsidade, é politicamente engajado e abraça as causas mais nobres da sociedade.

A teatralidade de nossos cineastas, artistas, gênios, blogueiros e facebookianos na representação dos seus respectivos “eu’s”, porém, tem pouca ou nenhuma importância na almejada busca por um admirável mundo novo.

Mas, quando saímos da dimensão cotidiana da vida e partimos para a esfera política (i.e. conjunto de ações e/ou decisões que, de alguma maneira, interferem no espaço de convivência coletiva, a pólis), a performance teatral dos agentes não pode encontrar uma plateia tão apática e acrítica como a nossa.

O prefeito João da Costa, por exemplo, quer se apresentar como político competente e trabalhador (vejam o banner publicitário da prefeitura logo acima desse texto), vomitando números de obras como se isso provasse alguma coisa. Nesse ramo eu aprendi sempre a desconfiar de números. A propaganda do programa de eletrificação do governo Lula, podem pesquisar, contava a metragem dos fios indo e voltando, fase e neutro, para parecer maior do que de fato era.

O que importa numa gestão pública é muito mais o rumo escolhido que a quilometragem percorrida. Já notaram como nossos políticos são corredores de academia? Correm em cima de uma esteira e não saem do lugar. Justamente por não saberem que direção tomar.

Qual é o rumo do Recife hoje? Alguém poderia me dizer? Qual o rumo da gestão anterior, a de João Paulo? Em qual sentido caminhou Roberto Magalhães? E Jarbas?

Fala sério.

A teatralidade da política recifense não está nos levando a lugar algum. Vamos parar de exaltar tantos gestores medianos e medíocres. Chega de celebrar feitos ordinários.

Está na hora do Recife escolher um rumo. Nem precisa correr. Basta começar a andar.

 

PS: Convido tod@s a participarem do debate que está acontecendo sobre Direitos Urbanos no grupo existente no Facebook e/ou neste blog aqui. Tem tudo a ver com a eleição deste ano.