A DOR E A DELÍCIA DE SER OPOSIÇÃO | Raul Jungmann

A DOR E A DELÍCIA DE SER OPOSIÇÃO

por Raul Jungmann 
 
Estou há doze anos na oposição no Recife, dez no âmbito federal e seis em Pernambuco. Foi prá lá que o meu eleitor me mandou, em sucessivas eleições e eu sou fiel a ele.
 

A DOR E A DELÍCIA DE SER OPOSIÇÃO
 
Estou há doze anos na oposição no Recife, dez no âmbito federal e seis em Pernambuco. Foi prá lá que o meu eleitor me mandou, em sucessivas eleições e eu sou fiel a ele.
É na oposição que um político se tempera, se testa, decanta suas escolhas, convicções, alonga sua paciência, endurece resistências e se prepara para, quando chegar ao poder, exercê-lo com sabedoria e justiça.
O grande Winston Churchill passou 18 longos anos nessa condição, de onde saiu para liderar a resistência ao nazismo e se tornar um monumento nacional dos britânicos.
Entre nós, Ulisses Guimarães foi o timoneiro da resistência à ditadura por longos 20 anos e após ela, o Sr. Constituinte.
 
 
 
 
Ser oposição é fazer parte da governabilidade – não confundir com governo -, defender os cidadãos dos abusos do poder e as instituições democráticas.
É na oposição que germina a semente do futuro poder, que será tanto melhor e mais equilibrado  quanto mais consistente ela, a oposição, tiver sido. Nela, mas não apenas nela, desenvolvemos o respeito pelas minorias, a alternância do poder e o estado de direito.
Hoje, amigos nos cobram que é hora de mudar de lado, de aderir, diante do rolo compressor governista e do pouco que resta de vozes discordantes…
Sem dúvida, fazer política do lado de fora dos governos é não ter cargos, gente, recursos, facilidades. É não ter como atender infinitas e justas demandas. É ver companheiros mudarem de lado e se ver quase só.
 É, em especial, disputar eleições em brutal desigualdade de meios e estar sempre a um passo da derrota acachapante. Ver consciências e votos serem comprados ou, quando menos, o clientelismo com recursos públicos triunfar em toda linha. A máquina da publicidade, da mídia e das iniciativas  a  girar numa só e contrária direção.
Ser oposição é duro, muito duro. Mas não me queixo.
Ser oposição, entretanto, não é ter a falsa consciência de que se é melhor ou o dono da verdade, não. Tão pouco se acomodar a condição autocomplacente de “vítima do sistema”.
 Estar na oposição é consequência de escolhas que, por sua vez, geram outras consequências. Nenhuma delas, antes ou depois da escolha feita, fruto do acaso, destino ou culpa alheia.
Creio que estar na oposição é reafirmar nossos sonhos, compromissos, caminhos. Aliás, é tê-los. E acreditar neles.
Viver na oposição é lutar com unhas e dentes pelo que se é e crê. E, com mais força e empenho ainda, lutar para deixar de sê-lo, superar tal condição e tornar-se governo, Porém e sempre, pelo caminho reto da construção de maiorias, de acordo com as regras do jogo, sem atalhos. Não pelo poder em si ou cargos, mas pelo poder de transformar projetos em realidade melhor para todos.
 Ser oposição, como fazer política, é ter um radical compromisso, que se leva para o governo, de ter respeito consigo e com o outro, não como um meio, mas como um fim em si mesmo.
Raul Jungmann