Câmara do Recife: Raul Jungmann à caça da herança maldita | Raul Jungmann

Câmara do Recife: Raul Jungmann à caça da herança maldita

Por Josué Nogueira 
 
Raul Jungmann iniciou seus dias de vereador do Recife com a faca nos dentes.
Estava sem mandato há dois anos, depois de quatro como ministro do Desenvolvimento Agrário e outros oito como deputado federal.
Em um mês de atuação, fez barulho e deixou claro que a oposição vai cobrar do prefeito Geraldo Julio (PSB) a real situação deixada pelo antecessor João da Costa (PT).
 

Câmara do Recife: Raul Jungmann à caça da herança maldita
Raul Jungmann iniciou seus dias de vereador do Recife com a faca nos dentes.
Estava sem mandato há dois anos, depois de quatro como ministro do Desenvolvimento Agrário e outros oito como deputado federal.
Em um mês de atuação, fez barulho e deixou claro que a oposição vai cobrar do prefeito Geraldo Julio (PSB) a real situação deixada pelo antecessor João da Costa (PT).
“Tem que se esclarecer a questão do lixo, da Fundação de Cultura, do carnaval. Por todos os lados há desvio de recursos”, diz.
“Há um ponto escuro que ele (Geraldo) precisa esclarecer. Tem que se fazer uma devassa nas licitações viciadas, nos desvios de recursos”, frisa.
Para ele, o socialista começa a fazer um governo de continuidade, indo na direção oposta do que esperam os recifenses que disseram não ao PT.
“Ele oculta a herança maldita”, afirma, avisando que trabalhará para acabar com a miopia da Câmara no que diz a adoção da transparência.
“Parte da Câmara foi silente e omissa  com o que o senhor João da Costa fez com o Recife”, salienta.
Assim, enfatizando clichês e ocupando todos os canais que lhe são possíveis Jungmann vai marcando terreno nesse recomeço.
Diz que sabe que continuará a pagar uma preço alto por assumir e exercitar seu fascínio por holofotes.
“Prefiro pecar pelo excesso. Prefiro ser adjetivado de marqueteiro, de oportunista, do que quiserem, mas manter a minha independência e o rabo preso com o eleitor”, destaca sem temer reforçar sua fama de demagogo.
Para quem começou por Brasília, na esplanada dos ministérios, passar a atuar na desgastada Casa José Mariano, nos limites do Recife, está sendo frustrante, desestimulante?
Jungmann confessa que, num primeiro momento, ficou aprensivo. Agora, declara, está adorando.
“Pela primeira vez na vida, vivo o que meu eleitor vive. O deputado federal é uma abstração, um ser distante, que vive fora da cidade. Estou agradavelmente surpreso”, frisa.
Leia a entrevista completa (mais quadro com trajetória) abaixo:
 
Após um mês de posse e já observando a atuação do prefeito, qual a expectativa para a atuação da oposição?
Acho que o prefeito tem procurado uma agenda que vá ao encontro das demandas do Recife. Inegavelmente ele tem se preocupado com isso. A gente tem visto, acompanho diariamente a agenda dele. Entretanto, ele tem um grave problema: a herança maldita de João da Costa que ele oculta. O desastre que foi a administração João da Costa pode ser visto por todos os lados: quebrou a Reciprev, está aí o TCE recusando. Ele (o ex-prefeito) cometeu um crime. Se tivéssemos aqui o instituto grego do banimento, João da Costa era para ser banido da cidade. O que ele fez com a educação, numa cidade pobre, de jovens, vulneráveis, na marginalidade… Ele, sistematicamente – assim como João Paulo (também ex-prefeito), mas mais ainda – não aplicou o mínimo constitucional. Desrespeitou a constituição e ao mesmo tempo, não deu educação. Temos hoje a pior educação das capitais. E não só isso. Nós não vamos ter uma devassa nos contratos da Fundação de Cultura do Recife? Vamos botar uma pedra nos malfeitos, das licitações viciadas, dos desvios de recursos? Ele (João da Costa) Só aplicou 30%. O que tenho visto até agora é que o prefeito, que foi um candidato de oposição, é um prefeito de continuidade.
Então, a oposição começará o ano legislativo cobrando as reais informações da herança de João da Costa?
É a primeira coisas que temos que cobrar. Do contrário, será um estelionato eleitoral. O cara é eleito para mudar, todo o Recife queria isso. O candidato do PT, que foi Humberto (Costa) ficou em terceiro lugar. Somando os votos dos dois que ficaram acima, vinte e tanto (de Daniel Coelho, do PSDB) com cinquenta (por cento) de Geraldo, chegamos a setenta e tanto por cento. O que quer dizer: três em cada quatro recifenses querem uma mudança, querem acabar com este desastre de administração João da Costa. O prefeito, por razões de composição política, agenda nacional e etc, simplesmente esconde a real situação da cidade. Está sendo um prefeito de continuidade. E este é o xis da questão, politicamente falando. Há um ponto escuro, há um ponto que ele precisa esclarecer. Parece que ele agora começa a dar sinais de que vai mandar estudar as licitações. Mas tem que se fazer uma devassa. Tem que esclarecer a questão do lixo, da Fundação de Cultura, do carnaval. Por todos os lados há desvio de recursos. Então, a pergunta que não quer calar é a seguinte: afinal, ele foi eleito para romper com esse eixo do mal ou não? Ele apresenta um balancete que é um horror. Estou estudando e vou tomar uma posição sobre ele.
Pelo que o senhor já viu até agora, acha que a Casa tem espaço ou a preocupação em implantar medidas que garantam a transparência, criar uma corregedoria?
A Casa tem três desafios. O primeiro é deixar de ser um anexo do Palácio Capibaribe. Ser um poder soberano. E ser fiscal e não sócio da desordem. Se não for, não vai atuar em defesa do Recife e dos recifenses. A Câmara foi silente e omissa, uma parte dela, com o que o senhor João da Costa fez com o Recife. Uma parte predominante dela foi sócia da desordem. O desastre da administração tem sócios na Câmara. O segundo desafio é a questão da transparência. Não é possível que hoje quando se tem a vigência de lei de acesso à informação, torna até ridículo não ter informações. Hoje, por exemplo, a Casa não tem um balancete. Isso está na lei orgânica. A Câmara tem que cumprir a própria Constituição que aprovou em 1990. Não tem a tribuna popular, o conselho do cidadão, corregedoria, portal da transparência. O que a direção Casa tem que entender é que o período da desinformação, da não transparência, está acabando. O cidadão que pedir um balancete, por exemplo, ou é atendido ou pode recorrer à lei de improbidade. Esta é uma postura absolutamente míope. Em terceiro lugar, a casa tem que se aparelhar para fazer leis. Precisa ter um concurso. Precisa ter consultores e assessores jurídicos, que não tem! A Casa é hoje e tem sido esses anos todos um acampamento que é servido pelos funcionários, que o próprio presidente diz, chegam a trezentos e tantos. A Casa precisa se transformar numa instituição. Tem que ser como no Congresso e na Alepe que tem quadros, funcionários treinados, capazes. A própria Casa fisicamente é um vexame. Ninguém está defendendo aqui obras, isso e aquilo. Mas não é possível que se vá trabalhar numa situação de desrespeito ao próprio Poder e ao cidadão.
O senhor se movimentou ao longo de janeiro enormemente. Fez denúncias, criticas, cobranças. Em outros momentos da sua carreira, apontaram exagero na sua sede por exposição. Viram oportunismo, sede de holofotes, críticas que certamente voltarão. Como avalia isso?
Avalio que isso inevitável. Ou se faz isso ou então se vai para a vala comum dos que dependem dos favores do Executivo. Eu prefiro pecar pelo excesso. Prefiro ser adjetivado de marqueteiro, de oportunista, do que quiserem, mas manter a minha independência e o rabo preso com o eleitor. Eu acho que é inevitável. Já vivi isso na Câmara por oito anos. Tenho casca grossa e sei o que quero. Quero uma comunicação direta com o eleitor. Tenho compromisso com a Casa, quero fortalecê-la. Não agrido ninguém individualmente, não desrespeito ninguém. Não tranformo minhas lutas em contendas pessoais. Agora, é um preço a pagar. Por não ficar dependendo de cafuné, capilé e caraminguá do Poder Executivo e por ter o rabo preso com meu eleitor, pago tranquilamente esse preço. Estou acostumado. Já coloco essa conta no meu holerite. Pago com satisfação em nome dos meus compromissos assumidos. Não tem problema.
Como está sendo o recomeço depois de chegar a ser deputado, ministro?  
Num primeiro momento, confesso que fiquei, digamos assim, apreensivo. Isso porque minha atuação sempre foi nacional e passei para o plano local. Nunca lidei com o local. Hoje posso dizer, e não estou sendo demagogo, nem como ministro ou como deputado eu tive tanto prazer em exercer um mandato. Pela primeira vez na vida, o que meu eleitor vive eu vivo. Se tem problema no trânsito, ele vive e eu vivo. Do mesmo modo com relação a calçadas. O deputado federal é uma abstração, um ser distante, que vive fora da cidade. Eu estou agradavelmente surpreso e adorando. Na cidade, exatamente na cidade, é onde se constrío ou não uma democracia, é onde se constroi um país. E isso, reconheço hoje, com humildade, me faltava. Estou adorando.
Trajetória – resumo
1990: Foi secretário de Planejamento de Pernambuco, no governo de Carlos Wilson
1993/94: Secretário-executivo do Ministério do Planejamento no governo de Itamar Franco
1999/2002: Ministro do Desenvolvimento Agrário, no segundo governo de Fernando Henrique Cardoso
2003/2010: Deputado Federal por dois mandatos por Pernambuco
2010: Disputou o Senado na chapa em que o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) concorreu ao governo do estado. Num arranjo político, ocupou a vaga que seria do PSDB, tendo em troca a promessa de ser apoiado pelos tucanos na eleição para prefeito do Recife em 2012. Não se elegeu, mas obteve 559,9 mil votos. Destes, 207,1 mil vieram da capital
2013: Após dois anos sem mandato, assumou mandato de vereador do Recife em janeiro. Foi eleito com 11,8 mil votos
Foto: Cecília Sá Pereira/Diario
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One thought on “CÂMARA DO RECIFE: RAUL JUNGMANN À CAÇA DA HERANÇA MALDITA”
Renato Gomes de Mattos de Mesquita no dia 04/02/2013 às 18:49 disse:
É bastante salutar a existência de uma oposição sistemática que passe a limpo as ações governamentais, embora com pequena representatividade, e que realmente permita a sociedade ter conhecimento dos verdadeiros acontecimentos. Agora se sabe que não é de competência do governo recém instalado, PSB (Geraldo Júlio), proceder aos devidos esclarecimentos sobre possíveis falhas do governo anterior (PT) e sim uma atribuição dos tribunais de contas. Mais cedo ou mais tarde vamos tomar ciência de tudo que houve de errado. E PT saudações!
 
 
 
Por Josué Nogueira