Zilda Arns – A líder mãe | Raul Jungmann

Zilda Arns – A líder mãe

Fonte: Blog do Magno 

Amar aos outros, doar-nos e liderar com autoridade nos força a quebrar nossos muros de egoísmo e ir ao encontro das pessoas. No livro “O monge e executivo”,  o autor James C. Hunter mostra os requisitos para nos tornarmos um líder ideal, enfatizando a importância da confiança no relacionamento entre o líder e os empregados. Defendendo o modelo do líder servidor, argumenta que exercer a liderança é poder inspirar e influenciar o outro para ação com entusiasmo e trabalho para o bem comum. 

Para Hunter, o indivíduo não precisa ser chefe para ser líder. Poder e autoridade tem diferenças. Poder é força que funciona por um tempo, mas fica velho; “Autoridade, ao contrário, é a habilidade em conseguir que as pessoas façam sua vontade por conta de sua influência pessoal”. Um bom exemplo de autoridade, segundo ele, são nossas mães. “Elas atingem esse status porque nos serviram e continuam a nos servir ao longo de nossas vidas”. 

Dentre as  principais qualidades do líder, a habilidade diz respeito a competência  e a influência tem como base a confiança. Servir com humildade, conquistar a confiança das pessoas e tratá-las com respeito; encorajar e agir com atitudes positivas  e entusiásticas e, amar o que faz. Eis a receita e o exemplo da médica pediatra e sanitarista Zilda Arns, fundadora da Pastoral da Criança.

Quando tentamos trazer à memória os líderes que nos marcaram a história recente,  temos os exemplos de  Dom Hélder Câmara, Nelson Mandela e da doutora Zilda Arns. Eram pessoas que tinham algo cativante e faziam a diferença. Tal como D. Hélder,  Dra.Zilda não carregava as pessoas nos ombros. Por serem pesadas, as levavam no coração. 

Sua rede de solidariedade atinge mais de 260 mil voluntárias na luta contra a miséria e a desnutrição infantil em 42 mil comunidades carentes no Brasil. Pela eficácia de seu trabalho, os resultados de suas ações de combate a mortalidade infantil ganharam o mundo. Diferentemente dos projetos políticos dos governos, os seus investimentos eram em esforços coletivos e, noventa por cento de suas ações se concentravam na promoção humana do respeito às pessoas e aos seus direitos à vida.   

Estabelecia sua autoridade com ternura e disciplina ao servir aos outros e sacrificar-se por eles, amando-os de fato. Nesse aspecto, a bondade, o respeito e a paciência são uma de suas principais características. Conceitualmente sua liderança, se estabelecia no compromisso que ela tinha entre o falar e o fazer. Sobre o ambiente de trabalho é imperioso ressaltar que pode  colher todos os frutos que plantou ao criar um ambiente saudável de valorização da auto-estima  e encantamento das pessoas. 

Muitos acham que liderança é um dom e que a pessoa nasce um líder nato ou não uma vez que desde criança já podemos demonstrar se seremos líderes ou não. No conceito de liderança, os líderes desenvolvem habilidades básicas e o conhecimento necessário para compreender, predizer e influenciar o comportamento dos outros.  A práxis ocorre quando um comportamento influencia nossos pensamentos e sentimentos; e, quando nos comprometemos a amar alguém e a nos doar a quem servimos, e realizamos as nossas ações com esse compromisso.

A experiência dessa mártir da luta pela vida através da promoção humana, nos mostra que o líder de hoje é muito diferente do líder de ontem, pois ele deve ser mais sábio do que técnico. Hoje ele deve saber compartilhar e investir nas pessoas para que elas dêem o melhor de si mesmas a uma causa.

A história de vida de Zilda Arns traduz-se na experiência contextual mais concreta que se tem como paradigma conceitual de  liderança. A sua disciplina, a perseverança  e a forma escolhida para liderar com autoridade mostra que a recompensa pelos resultados é algo que traz satisfação interior e convicção de que se está verdadeiramente em sintonia com os princípios profundos e permanentes da vida.

O modelo de liderança adotado pela doutora Zilda Arns pode ser novo, mas a sua estratégia de ação é baseada nos ensinamentos da sabedoria antiga. No milagre das mães: o amor.  Na escolha da ação: o   óbvio das soluções simples. Para quem trabalha com recursos escassos: o uso da energia comunitária multiplicada com educação, de pessoa para pessoa.  E, no compromisso: o engajamento e o entusiasmo, de verdade. Eis a lição de uma líder mãe que nos deixa saudades, mas não um vazio, pois o espaço que transcende sua vida é pleno.