“Será a luta de Davi contra Golias”, diz Jungmann | Raul Jungmann

“Será a luta de Davi contra Golias”, diz Jungmann

O deputado federal Raul Jungmann (PPS) diz que sua primeira indicação para disputar o Senado chegou na hora em “que a casa estava limpa e a mesa posta”. O discurso já está afiado. Mesmo insistindo que não vai combater o governador do Estado, Eduardo Campos (PSB) “porque isso é tarefa de Jarbas (Vasconcelos/PMDB)”, ele dispara sua munição.

Nesta entrevista à Folha, diz que o socialista é o “algoz” do PT, partido que, por sua vez, “marginalizou João Paulo”. Frisa ainda que o mérito de Eduardo é ter negado a bandeira “terceiro-mundista” empunhada na administração do avô, Miguel Arraes, e ter dado continuidade à política desenvolvimentista adotada por Jarbas. Repara ainda que a gestão socialista empresta “anuência”, “leniência” e “marketing” para que o presidente Lula não cumpra nenhuma obra estruturadora no Estado.

Contente com a escolha do seu nome para a chapa?

Estou leve e muito disposto, porque acho que fiz a coisa certa. Quem morre na cama é covarde e eu não entrei na política para viver no conforto, nem para ficar rico, mas para fazer aquilo que a coisa pública, que o desafio público convoca. Como eu disse na convenção, a gente jamais pode se isolar no egoísmo da satisfação e recusar o desafio quando ele se impõe como dever.

A sisudez de Jarbas lhe intimidou a pleitear a vaga?

Não. O que foi decisivo foi quando o senador Sérgio Guerra (PSDB) indicou meu nome, porque eu dizia que a chapa tinha que ter o 45 e tinha que ter o PSDB. Sem a principal força política da oposição, a chapa ficava capenga. No momento em que o senador Sérgio Guerra se dispõe a ligar para Jarbas e indicar meu nome, e dizer: você é indicação do PSDB, evidentemente, eu não tinha argumentos, sabedor que era da boa receptividade do PMDB e do Democratas, que isso já me tinha sido dito. Eu não tinha razões para não aceitar. Sou uma pessoa de compromisso.

Jarbas disse que, com a sua escolha, a chapa ficou exatamente do jeito que ele queria, sinalizando que o senhor era uma opção pensada desde o princípio.

Acredito que amadureceram as condições para que você tivesse uma chapa plural com liberais social-democratas e socialistas, que somos nós no caso. Um palanque que tem que articular temas novos.

Roberto Magalhães disse que o senhor vai fazer “muito barulho” nesta campanha. Isso pode ser entendido como combater o Governo? Vai fazer barulho?

Vou combater o Governo dentro de uma dialética de denunciar o que está errado e anunciar propostas de mudanças, mas não vou combater o governador. Até porque, quem debate com o governador é o nosso candidato ao Governo, Jarbas Vasconcelos (PMDB). O que eu vou fazer é apresentar propostas para o Estado, sobretudo, na área de Educação que é a matriz das nossas desigualdades. Nós precisamos, como disse Silvio Meira, de um salto quântico. Pernambuco está perdendo, hoje, na Educação para o Ceará, para a Bahia e até a quarta e a oitava série para Paraíba. Então, nós vamos perder o bonde, inclusive do crescimento, porque você não tem como melhorar a qualidade da mão-de-obra se você não tem conhecimento.

Essa é uma pauta na qual o governador investiu, as escolas, enaltecendo crescimento nos números…

Aqui é importante dizer: Se Eduardo Campos tem um mérito, e tem, é de ter abandonado a proposta terceiro-mundista do governo anterior do PSB e ter incorporado a proposta desenvolvimentista, do Estado equilibrado e indutor do desenvolvimento, que é Jarbas que traz. Se mérito ele tem, e tem, assim como (o presidente) Lula fez com (o ex-presidente) Fernando Henrique Cardoso (PSDB), foi exatamente jogar fora suas bandeiras, a bandeira do terceiro-mundismo, da vaca na corda, do subdesenvolvimento periférico. E partir para uma ideologia moderna de competitividade de desenvolvimentismo que quem trouxe ao Estado foi Jarbas Vasconcelos.

Seria um pecado de Eduardo Campos dar sequência aos feitos de Jarbas?

Na verdade é o mérito. Assim como, hoje, você tem a possibilidade com (o presidenciável) José Serra (PSDB) – ele assumiu o compromisso histórico de recriar a Sudene – de recolocar de pé a questão regional. Eu volto a dizer o Nordeste ainda é a nossa questão regional, é a nossa bandeira. Então, você tem a Sudene que foi criada, entre lágrimas de Celso Furtado, com a presença de Ciro e Eduardo Campos do PSB, em Fortaleza, e foi mantida em estado de coma, portanto, uma farsa, uma mentira. A Sudene não saiu do papel, era apenas um jogo ilusório. Também tem a necessidade de obras estruturadoras. O governo Lula com a anuência, a leniência, e o marketing do Governo Eduardo Campos, na verdade, não cumpriu nenhuma obra estruturadora. A Transnordestina não será concluída, a Transposição não é cumprida, o metrô é praticamente um arremedo porque não se complementou. A adutora do canal do Sertão continua paralisada. A Hemobras é um ato de lesa-fisco porque tem uma diretoria que recebe, há anos, milhares de reais sem você ter, sequer, um único tijolo colocado. Isso é, de fato, um caso para Justiça. Na verdade, deveria estar sendo objeto de uma CPI o que acontece hoje na Hemobras. Não temos nenhuma obra estruturadora. O crescimento que houve em Pernambuco esconde gargalos dramáticos que, de fato, significam que se o Nordeste teve uma melhoria, e teve, e Pernambuco também, nós estamos perdendo terreno e competitividade. E isso precisa mudar.

O senhor diz que o governador está fazendo uma maquiagem no Estado?

Olha, Jarbas vai fazer a comparação entre o Governo dele e o Governo Eduardo. Eu vou fazer a comparação entre o que diz o Governo e a propagando do Governo. Eu disse, na convenção, e repito: Seria tão bom morar na propaganda do Governo. Seria tão bom andar nas ruas do governo e não na realidade que nos temos, seria tão bom poder ir aos hospitais da propaganda do Governo, e não nesses hospitais que ai estão, onde se cria uma Saúde de fachada, ao mesmo tempo falta seringa na UTI e os pacientes empilham no chão do Hospital da Restauração. A verdade é essa: é preciso fazer duas comparações, uma a que Jarbas fará do passado e do presente e a outra é a que o povo está fazendo entre a realidade e a fantasia da propaganda.

Então, Eduardo só fez continuar o que Jarbas começou?

As bandeiras do PSB anterior levaram a que? A um estado estagnado sem infraestrutura, devendo folha, atolado em dívidas, um Estado que perdia posição no Nordeste e no Brasil. Você tem crescimento no atual governo, tem. Mas deve ver que o crescimento começa lá atrás com Jarbas e só é interrompido na crise de 2006, que é uma crise do PT que propunha um programa que colocou em risco as finanças no Brasil e, evidentemente, gerou grande desconfiança no mercado. Depois foi superado. Então, o restante do Governo Jarbas, tirando o primeiro ano é de crescimento crescente. Então, Eduardo, na verdade, representa, em certa medida, a continuação do que Jarbas iniciou e a negação do que eram as bandeiras e propostas do PSB, que levaram Pernambuco a mergulhar na estagnação.

Os governistas defendem que Fernando Henrique Cardoso dificultou a chegada de recursos ao Estado, quando presidente.

Governos diversos da oposição durante o período do governo Fernando Henrique Cardoso, tiveram sucesso, ajustaram suas contas e deram saltos de crescimento. Não existe, nem nunca existiu da parte do Governo FHC nenhum tipo de omissão ou discriminação. Isso é paranóia, é vitimização, é falta do que dizer. Isso é desculpa e isso é fácil de provar quando você vê desenvolvimento de outros estados, seja da situação ou da oposição.

O governador conclamou a militância na convenção para garantir a “maior vitória da história de Pernambuco”…

Eu acho ótimo. É o Governo de salto sete e meio, de salto alto. É uma frente politicamente balofa que agrega interesses e não valores, que agrega a busca do poder pelo poder e tem apenas como ponto de comunhão cargos e interesses pessoais. Nós fazemos uma frente enxuta. Quem estava lá não foi levado, tinha compromisso. E é melhor que seja assim. Será a luta de Davi contra Golias e a gente sabe quem é que vence essa peleja no fim.

Apesar da adversidade, vocês estão confiantes …

Eu não vou assumir a arrogância governista de dizer algo que compete à soberania popular. Eu apenas creio no nosso discurso, na nossa proposta. Creio que com Jarbas Vasconcelos, Marco Maciel, Miriam Lacerda, com a oposição, Pernambuco pode mais e nós vamos demonstrar isso, que hoje o Estado não tem projeto. O crescimento é, na verdade mais voltado para o consumo, para a renda que cresceu. Há investimentos e empreendimentos que chegaram por conta do que Jarbas fez e construiu. Não se resolveram os graves e dramáticos problemas de estrangulamento do Estado, não mudou estruturalmente, não consolidou infra-estrutura, interiorizou o desenvolvimento. Tem uma gestão ambiental péssima.

Sua primeira campanha para o Senado chegou num momento ideal?

Chegou num momento muito maduro. Se somar o período do movimento estudantil, são 40 anos dos meus 58 que eu estive voltado para a política enquanto transformação, porque política é um sanduíche de valores e interesses. Interesses porque os homens precisam de casa de comida de Saúde, enfim, de uma vida melhor, precisam de quem defenda e promova seus interesses. Mas, é, sobretudo, de valores, ética, respeito e justiça. Política sem valores, sem ética é banditismo corrupção e violência. Para mim, política sempre foi uma ferramenta de transformar o mundo. Enquanto estava em cima daquele palanque, eu recordava os anos da ditadura, me recordava das inúmeras vezes que armei palanque, colei cartazes carreguei nos ombros inclusive candidatos cansados uma longa e lenta caminhada. Então, quando se apresentou a hora, como dizia Manuel Bandeira, eu estava com a mesa posta e a casa limpa e podia assumir esse compromisso com a consciência de que eu daria o melhor de mim. E aqui eu quero dizer uma coisa: que tinha respeito e consideração por Armando Neto (PTB) e Humberto Costa (PT). Não muda nada, até mais agora já que nós vamos em público debater problemas de interesses comuns.

Já iniciou conversas de apoio?

No momento em que recebo indicação do PSDB, tenho uma penetração metropolitana que vai me fazer contar com bases do PSDB em todo Estado, dos Democratas e do PMDB. Com muita humildade, eu quero dizer que com este apoio do PSDB, do DEM com o qual devo ter uma primeira conversa com o partido, e vou conversar também com os demais partidos. Vou iniciar procurando os sindicatos. Eu vou ter condições de ser competitivo. Isso não traz arrogância e isso não traz nenhuma ou qualquer pretensão a algo que é um direito do eleitor, que é decidir quem vai representá-lo.

E os sindicatos?

O governador Eduardo Campos (PSB) deu um tratamento de neocoronel aos sindicatos da Saúde da Educação e dos trabalhadores da segurança, em especial aos PMS. Vou procurar a todos, dialogar com todos eles. Como socialista e homem de esquerda eu tenho uma preocupação central com os trabalhadores. E quero mostrar uma outra visão. Não a visão que hoje tem o PT que se rendeu aos cargos, à burocracia hoje endinheirada da CUT e entregou o movimento sindical ao seu algoz que foi o Governo do Estado. Hoje, lideranças do PT, que no passado, tinham compromisso com os sindicatos e movimento popular, são os primeiros a aceitar que sejam esmagados e tenham suas reivindicações sufocadas.

Humberto Costa tem o ex-democrata Joaquim Francisco na suplência…

Quanto à figura do ex-governador Joaquim Francisco, sempre foi e continua sendo merecedor de respeito. Quanto ao fato da suplência, é algo assim: no popular chama-se mistura de jacaré com cobra-d’água, é algo que diz bem o caminho que o PT vem percorrendo que levou à marginalização de João Paulo, que se optar por permanecer no PT, não tem nenhum futuro na política pernambucana, embora seja liderança de massa.