“O GOVERNO FEDERAL JÁ ESTÁ RETALIANDO PERNAMBUCO” | Raul Jungmann

“O GOVERNO FEDERAL JÁ ESTÁ RETALIANDO PERNAMBUCO”

A corrida pré-eleitoral, visando à Presidência da República, começa a dar prejuízos ao estado de Pernambuco, segundo avaliação do vereador Raul Jungmann (PPS). Na análise do parlamentar, o Estado já sente uma retaliação por parte do Governo Federal, alimentada pela corrida pré-eleitoral, e sobretudo, com a movimentação do governador Eduardo Campos (PSB), possível candidato em 2014. Quanto ao rumo que o PPS irá tomar, Jungmann disse que existe uma grande possibilidade de junção entre o seu partido e o PMN. Mas com relação ao nome que apoiará para a Presidência da República – se será Eduardo Campos, Aécio Neves (PSDB) ou Marina Silva (sem partido) – ainda não há definição. Nesta entrevista, Jungmann critica a gestão do prefeito Geraldo Julio (PSB). Segundo ele, mesmo após 90 dias de governo do socialista, a gestão “não começou”. O vereador, no entanto, chegou a declarar que, se Geraldo tirar o PT da gestão, o PPS pode se tornar aliado dos socialistas no Recife. 

 

 

“O GOVERNO FEDERAL JÁ ESTÁ RETALIANDO PERNAMBUCO”

Entrevista: Raul Jungmann (PPS) Vereador do Recife

WAGNER SANTOS da Folha de Pernambuco


A corrida pré-eleitoral, visando à Presidência da República, começa a dar prejuízos ao estado de Pernambuco, segundo avaliação do vereador Raul Jungmann (PPS). Na análise do parlamentar, o Estado já sente uma retaliação por parte do Governo Federal, alimentada pela corrida pré-eleitoral, e sobretudo, com a movimentação do governador Eduardo Campos (PSB), possível candidato em 2014. Quanto ao rumo que o PPS irá tomar, Jungmann disse que existe uma grande possibilidade de junção entre o seu partido e o PMN. Mas com relação ao nome que apoiará para a Presidência da República – se será Eduardo Campos, Aécio Neves (PSDB) ou Marina Silva (sem partido) – ainda não há definição. Nesta entrevista, Jungmann critica a gestão do prefeito Geraldo Julio (PSB). Segundo ele, mesmo após 90 dias de governo do socialista, a gestão “não começou”. O vereador, no entanto, chegou a declarar que, se Geraldo tirar o PT da gestão, o PPS pode se tornar aliado dos socialistas no Recife. 

Com relação à mobilidade urbana no Recife, como o senhor avalia intervenções como os viadutos da Aga­menon Magalhães?

A minha posição é que os viadutos da Agamenon são um desastre, porque apenas deslocarão o congestionamento de um lado para o outro da Agamenon. Por exemplo, você tem a Agamenon, e aí coloca um viaduto sentido rua Paissandu para a Ilha do Retiro. Até então, o motorista vai atravessar sem problemas e não vai parar do lado de cá. Só que, imediatamente tem o sinal da Ilha do Retiro, e tem a Abdias de Carvalho totalmente congestionada. Além desse, tem o do Americano Batista, que vai para a Joaquim Nabuco e José Osório, seguindo para a Caxangá. Mas basta a Uninassau no horário de Pico para acabar com tudo. É a mesma coisa com o Bompreço e o Português. Ou seja, os viadutos representam um gasto desnecessário e um desastre, sem resolver problema algum. Pelo contrário, degradando futuramente toda aquela área. 

O que poderia ser feito em vez de construir os viadutos?

Eu acho que a saída seria, em vez de fazer o rodízio, pegava as 30 principais vias da Cidade, que estão prontas para isso, fazer faixa exclusiva para os ônibus, e fazer algumas faixas exclusivas para ônibus, com controle eletrônico via pardal, e colocar ciclofaixas. Poderia dar um salto dos atuais 25 quilômetros de ciclofaixa, para pelo menos 150 quilômetros a um custo baratíssimo. 

Então, o rodízio não seria uma solução para diminuir os gargalos?

O rodízio é uma violência para quem tem carro e vai ter que deixá-lo, porque não se colocou um único ônibus a mais dentro do sistema, nem melhorou a qualidade, e é também uma violência para quem já usa o ônibus. Para quem tem carro, ir para um sistema absolutamente sucateado e sem nenhuma melhoria, é uma violência. E para quem já está dentro do sistema ter uma invasão e competir por um lugar nesse sistema por um espaço no ônibus com quem vai deixar o carro em casa, é também. Imagina só, você já tem ônibus superlotados e vai jogar mais gente dentro sem ampliar. Então, primeiro a Prefeitura tem que fazer o dever de casa, que é uma melhoria na oferta e na qualidade do transporte coletivo, antes de cobrar sacrifícios. Além disso, o prefeito Geraldo Julio não colocou nenhum rodízio no programa de governo dele. Então, é um estelionato eleitoral fazer isso por ato administrativo. Ele deveria mandar fazer um projeto de lei ou fazer um plebiscito. E assim ouve a Câmara ou ouve o povo da cidade, pois vai mexer com a vida de todos nós. E rodízio não deu certo em nenhum lugar do mundo. Aqui no País, só foi implantado em São Paulo, e lá o efeito foi no curto prazo, e desapareceu de 1997, quando ele foi lançado para cá, porque a frota cresceu 2,9 milhões. Portanto, o efeito se transformou em algo totalmente desprezível.

Com relação à disputa presidencial de 2014, o que o senhor acha que falta para Eduardo Campos assumir a candidatura à Presidência? 

O Governo Federal já está retaliando Pernambuco. E Eduardo se definindo candidato a presidente, o PT do Estado e do Recife deixarão o governo e irão para uma oposição dura a Geraldo Julio e Eduardo Campos. Isso tem data marcada para acontecer. E o governador voltará a ter oposição no Estado, que (atualmente) não existe. O que ele tem são figuras ou parlamentares de oposição. Mas a oposição enquanto bloco deixou de existir com a ida do PT e de Jarbas Vasconcelos para a base de apoio de Eduardo Campos.

Petistas disseram que a oposição estaria interessada na saída do PT para que alguns vereadores passem a compor a base, como Priscila Krause, que cobrou a ruptura da gestão com o PT, e o senhor, que declarou que, caso o PT saísse, a relação mudaria entre o PPS e o PSB. Jurandir Liberal chegou a dizer que o senhor sente saudade de ser governo…
Com relação à frase do Liberal é o seguinte: ele me julga pelas intenções que eu não tenho e eu o julgo pelos atos que o PT cometeu. Porque na eleição era oposição e hoje está no governo. Então, se alguém mudou, foram eles e não nós. Mesmo que o PPS nacional venha a apoiar Eduardo em 2014, aqui no Recife permaneceremos na oposição. E isso já foi comunicado a Roberto Freire. Porque lá (na oposição) foi onde as urnas, o eleitor, decidiram que era o nosso lugar e onde iremos ficar. Aliás, na semana que vem (nesta semana), iremos fazer a avaliação dos 90 dias do governo que não começou, que é o de Geraldo Julio. 

O ex-vereador Josenildo Sinésio deixou o PT, alegando estar motivado pelas intrigas internas. Como o senhor vê a situação atual do partido?

O PT de Pernambuco perdeu o rumo e a única unidade que resta entre eles é estar no governo de Geraldo Júlio e Eduardo Campos, porque se ‘partido’ fossem jamais poderiam, depois de ter sido derrotados pelo PSB, 30 dias depois, estar dentro do governo do mesmo PSB. Isso não é política partidária, é adesismo puro e simples. O PT hoje é um partido, irreverssivelmente ‘partido’ e não tem cola que reúna os pedaços.

E nacionalmente, existe a possibilidade de isso se refletir na reeleição de Dilma?
A única ameaça à candidatura de Eduardo, hoje, é Lula ser candidato a presidente. E presta atenção: Lula lançou Dilma candidata e saiu em caravana pelo País como candidato que é. Se engana redondamente quem pensa que Lula está fora do Jogo. Se a economia, como parece, com o crescimento do desemprego, com a inflação, e o crescimento pífio colocar a reeleição de Dilma em risco, Lula é o candidato. Quem viver, verá. E aí será a hora da verdade para Eduardo Campos. 

E porque Lula não se lançou em vez de Dilma?

Primeiro para poder ter duas opções. E segundo é que se ele não a lançasse talvez o movimento para fazê-lo candidato se tornasse irresistível. E é sempre melhor em política ter o plano A e plano B, ou seja, ele lança Dilma e sai andando. Se ele não lança Dilma, para todo mundo ele era o candidato, e depois não ter como desfazer isso. Então, ele lança e sai. Vamos ver como vai a economia, vamos ver se essa candidatura de Eduardo cresce, vamos ver a candidatura de Aécio, e tudo isso. E lá adiante ele pode ter uma decisão. Então, ele manteve-se dentro do campo das possibilidades. E aí é outra história, seria uma outra eleição. Se Dilma tiver chance de continuar do jeito que está, é ela. Mas se a situação deteriora, é ele. 

Eduardo deveria se lançar caso Lula seja candidato?

Olha, eu não ouso aconselhar o governador. Mas que o risco é enorme para ele, é. Porque ao contrário de Dilma, Lula é no Nordeste e aqui, no meu ponto de vista, hoje, um ídolo e um mito dificílimo de se abater. Aí é que eu quero ver. Eduardo será candidato contra Lula? Contra Dilma eu já sei que ele é. Mas será contra Lula? Enfrentará na condição de candidato a presidente da República, disputando contra ele no Nordeste?

Como o senhor vê o projeto do PSB?

Como Jarbas disse: ‘é uma dissidência nesse campo’, e busca se colocar a meio termo entre a oposição representada pelo PSDB e uma dissidência no campo comandado pelo PT, ou seja, é uma espécie de anfíbio, e está correto. Tem um pé em cada canoa. De um lado ele permanecerá buscando se manter no campo dos partidos que estão no poder, mas de outro ele se apresenta como uma oportunidade de ir além, incorporando setores da oposição. Então, é isso que ele pretende objetivamente alcançar. Agora, o interessante é que hoje a candidatura de Eduardo tem uma forte dependência da candidatura de Aécio, e a de Aécio tem uma forte dependência da de Eduardo. Uma forte dependência uma da outra para que se tenha um segundo turno na eleição presidencial. Atrelado a isso, é fundamental ter três ou mais candidaturas do lado da oposição, para capturar fatias do eleitorado e depois convergirem no segundo turno. E desses três, quem for para o segundo turno terá o nosso apoio. 

Diante disso, qual seria o maior desafio para Eduardo Campos?

Eduardo tem dois desafios pela frente. O primeiro é ter grandes puxadores de voto, que ele não tem até agora nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Ainda não apareceram esses puxadores de voto. Podem vir a aparecer, mas até agora não tem. O segundo desafio é ter partidos nacionais que se coliguem com ele para ter tempo de televisão. Uma eleição presidencial tem que ter duas coisas que são decisivas, penetrar no triângulo São Paulo, Minas, Rio, que são 41% do eleitorado e partir para ter um maior tempo de televisão. Até agora, ele não venceu essa barreira. Pode vencer, mas não venceu ainda e ela continua desafiando, de certa forma, a candidatura dele. Eduardo hoje tem um peso na mídia, numa expectativa que é desproporcional às suas chances reais. Mas ele é, indiscutivelmente e ninguém tira dele, a novidade dessa eleição.

O senhor acredita que José Serra sairá do PSDB para se filiar ao PPS e se lançar candidato em 2014 ao governo de São Paulo?

O Serra, acho que o coração dele balança entre o PSDB e o PPS, mas, pessoalmente, acho difícil que ele venha para o partido. Acho que seria muito bom para o PPS, porque ele é uma grande liderança. Acho difícil porque: ele ficaria em São Paulo em um palanque e Alckmin e Fernando Henrique em outro? Isso não é uma questão fácil para ele decidir. E ele tem tempo. E alguns setores do PPS têm discutido com o PMN a hipótese da fusão. Tem se conversado e discutido isso, mas sem se definir quem se apoiaria para presidente, se Aécio, Eduardo ou Marina. Pessoalmente, o presidente nacional do PPS, o Roberto Freire, é um entusiasta de um bloco de centro esquerda formado pelo PPS, PSB, PDT e outros partidos, sem a participação do PT. E inclusive, tem se encontrado com Eduardo Campos para conversar sobre o assunto. Nos próximos dias, inclusive, Eduardo estará na Conferência Nacional do PPS, em Brasília, nos dias 11, 12 e 13 de abril. Ele deverá estar ao lado de Aécio, de Marina, de Serra e de FHC.

E onde estará Jungmann em 2014?

Jungmann em 2014 estará cuidando de seu mandato a vereador, que é o que estou fazendo e estou gostando muito. Não penso em me lançar candidato, tenho me dedicado integralmente. Estou como presidente da comissão especial de Reforma da Câmara dos Vereadores e tem muito trabalho pela frente para dotar a Câmara dos instrumentos e da transparência que o Legislativo em uma capital como o Recife precisa ter. Então, estou muito empenhado com isso e muito satisfeito com esse trabalho, porque pela primeira vez, o que o meu eleitor vive eu vivo. Se a cidade alaga, a gente se molha junto ou não anda junto. Se a cidade trava, trava para mim e trava para ele. Se a calçada não dá para andar, não caminha ele nem caminho eu. Com o deputado federal não acontece isso, pois é alguém que está distante que vai e vem, e que, geralmente, não tem essa inserção local que estou vivendo e gostando muito.