CORREDOR ECOLÓGICO À VISTA | Raul Jungmann

CORREDOR ECOLÓGICO À VISTA

PROJETO Aumento de área de preservação permitirá a ligação de trechos de mata atlântica, manguezal e restinga , do Barro ao Pina

 

CORREDOR ECOLÓGICO À VISTA

 

PROJETO Aumento de área de preservação permitirá a ligação de trechos de mata atlântica, manguezal e restinga , do Barro ao Pina

 

Cláudia Parente do Jornal do Commercio

Depois de anos sofrendo ocupações irregulares e de quase ter recebido uma usina de tratamento de lixo, a mata do Engenho Uchôa, entre as Zonas Oeste e Sul do Recife, finalmente poderá seguir sua vocação natural de parque. Através do decreto nº 39.938, o governo do Estado aumentou a área de preservação de 20 para 171 hectares. Agora, a mata atlântica da Unidade de Conservação (UC) Refúgio da Vida Silvestre Mata do Engenho Uchôa poderá se unir às áreas de manguezal e de restinga, permitindo, futuramente, a formação de um corredor ecológico desde a mata do Barro até o Parque dos Manguezais, no Pina. O Plano de Manejo foi aprovado semana passada pelo Conselho Gestor da unidade.

De acordo com a superintendente técnica da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), Giannina Cysneiros, o plano vai definir como a unidade funcionará e possibilitará a captação de recursos para os projetos, que podem vir tanto do fundo de compensação ambiental do Estado quanto de empreendedores privados. “Para começar, precisamos de uma sede administrativa no local para facilitar a fiscalização”, diz, explicando que o projeto tem vários eixos de atuação. Entre as prioridades estão a gestão e monitoramento, o controle e educação ambiental e a recuperação de áreas degradadas. “O plano define o que será ou não permitido”, esclarece a técnica. Entre as atividades que devem atrair a população, há a proposta de realização de trilhas monitoradas e a criação de espaços físicos para eventos culturais e ambientais.

O Conselho Gestor da unidade, composto por 12 membros de entidades governamentais e 12 de não governamentais, aprovou o plano, mas sugeriu a inclusão de mais três iniciativas: a criação de uma marca para a reserva, a avaliação (para fins de desapropriação) da área ocupada e um estudo para recuperação do Rio Tejipió, que contorna a mata. Na avaliação da presidente do Movimento em Defesa da Mata do Engenho Uchôa, Luci Machado, o aumento da área de preservação foi um grande avanço. “Não foi uma conquista fácil. No ano passado, houve muitas investidas de empresários. Botaram até trator para limpar área, derrubando arbustos na beira-rio”, lembra.

A expectativa de Luci, moradora do Barro há 40 anos e defensora da área há mais de 30, é que agora o parque se concretize para aumentar a cobertura verde do Recife. “O desafio é pagar as indenizações para desapropriar e tornar a área pública de fato”, diz.

Já a formação de um corredor ecológico é um projeto para o futuro. A mata do Barro é separada da Mata do Engenho Uchôa apenas pela BR-101, mas há ligação pelas margens do Rio Tejipió. Parte da mata do Barro, aliás, já está incluída na Zona da Amortecimento da Mata do Engenho Uchôa (área da unidade de conservação onde a atividade humana é restrita e monitorada para evitar devastação). Mas o encontro delas com o Parque dos Manguezais ainda vai exigir a recuperação da mata ciliar do rio e de uma grande área degradada e ocupada entre os bairros de Imbiribeira e Afogados.

 

PROMESSA DE CRIAR PARQUE JÁ TEM 17 ANOS

A mata do Engenho Uchôa é uma Área de Preservação Ambiental (APA) do Recife desde 1987. O espaço sob proteção municipal – onde a prefeitura promete implantar um parque há 17 anos – é de 192 hectares. Desses, 20 também eram protegidos pelo Estado. Em 2002, um decreto municipal tornou a área de utilidade pública, mas o prazo de cinco anos expirou sem que a desapropriação fosse feita. Em 2008, a prefeitura tentou desapropriar 5,5 hectares para instalação de uma usina de tratamento de lixo, mas encontrou forte reação popular e desistiu do projeto.

Quando o governo do Estado adequou as antigas reservas ao Sistema Estadual de Unidades de Conservação, em 2011, a Mata do Engenho Uchôa deveria passar a ser uma reserva de floresta urbana. Mas, atendendo solicitação do Movimento em Defesa da Mata e da Prefeitura do Recife, transformou o espaço em Refúgio de Vida Silvestre (RVS).

O plano de manejo deveria ser feito apenas para os 20 hectares iniciais. Porém, como a vegetação se recuperou ao longo dos anos, segundo levantamento da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), o Conselho Gestor pediu e o Estado ampliou os limites para 171 hectares (ficaram de fora 21 hectares da APA onde há grande ocupação populacional, apesar de estar sob proteção do município).

“Para evitar sobreposição de ações e gestão, estabelecemos uma área mais coerente com a realidade”, explica Giannina Cysneiros. Ela adianta que, no futuro, será feita a regularização fundiária do trecho ocupado. Giannina diz que, para um observador do Sul ou Sudeste talvez a área preservada, mesmo ampliada, seja muito acanhada. “Mas, tudo que a gente conseguir proteger de mata atlântica é significativo”, acredita.