Nas Entrelinhas | Raul Jungmann

Nas Entrelinhas

Do Correio Braziliense 

Nesta reta final de ano e de formatação das pré-candidaturas a presidente da República, cada vez mais ministros serão chamados ao Parlamento para falar de temas de que o governo não gosta, como a crise na Receita Federal e as obras empacadas do PAC. É a temporada das arapucas.

Em todos os espaços de debates no Congresso, os políticos só se movimentam pensando em 2010. Não há uma só comissão que não esteja de olho nos benefícios eleitorais que seus membros podem auferir pela aprovação dos projetos ou até mesmo pedidos de audiências públicas. Foi o olho na eleição que levou, por exemplo, à aprovação da PEC dos Vereadores que cria mais de sete mil vagas nas câmaras municipais espalhadas pelo país, com a maioria dos deputados ávida por inflar o número de cabos eleitorais Brasil afora.

Na mesma batida estão as CPIs. A turma da CPI da Tarifas de Energia Elétrica percorre o país analisando as contas de luz e pedindo maior transparência e, a cada notícia que um deputado apareça, é ponto junto ao eleitor. Que o diga Dudu da Fonte (PP-PE), presidente da Comissão que está agora num momento de bastante notoriedade.

O lema que vai entrar em moda daqui para frente no Congresso é o seguinte: se um projeto ou pedido de audiência não puder ajudar o seu autor na própria base eleitoral que, ao menos, sirva para atrapalhar o adversário. Os líderes e vice-líderes do governo, por exemplo, passaram a semana política que terminou ontem suando nos corredores das comissões da Câmara. Trabalharam como nunca para tentar evitar a aprovação de uma gama de pedidos para que a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, fosse depor na Casa sobre os mais diversos temas.

Na Comissão e Finanças e Tributação da Casa, o presidente Claudio Vignatti (PT-PR) convocou às pressas a turma do governo para evitar que o deputado Guilherme Campos (DEM-SP) colocasse novamente na vitrine a crise na Receita Federal, um tema que o governo conseguiu tirar de cena há quase um mês. Com a ajuda do PMDB, o PT evitou a convocação da ministra e da ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira para falar a respeito da fiscalização nas empresas de Fernando Sarney, filho do presidente do Senado.

Na Comissão de Fiscalização e Controle, o deputado Raul Jungmann (PPS-PE) tentou aprovar um pedido de auditoria na Fundação Nacional de Saúde (Funasa) na gestão do atual presidente, Danilo Forte, indicado para o cargo pelo PMDB e pré-candidato a deputado federal pelo PCdoB no Ceará. Danilo foi salvo peço deputado João Magalhães (PMDB-MG), que esteve em baixa nos tempos da operação da Polícia Federal sobre a máfia das ambulâncias, um caso que ficou conhecido como “sanguessugas”.

No mesmo cenário, o deputado Fernando Coruja (PPS-SC) tentou mas não conseguiu abrir uma investigação da própria comissão sobre o caso do pagamento das dividas da União para com usineiros, um tema em análise também na CPI da Petrobras no Senado. Desta vez, foi a turma do PCdoB que correu para evitar que o diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Haroldo Lima, que falava em outra comissão sobre o pré-sal, fosse chamado novamente a responder sobre o pagamento dos R$ 178 milhões os usineiros, um valor que o Tribunal de Contas da União não engoliu.

Esses pedidos mencionados acima são uma prova de que, daqui para frente, nesta reta final de ano e de formatação das pré-candidaturas a presidente da República, cada vez mais ministros serão chamados ao Parlamento para falar de temas de que o governo não gosta, como a crise na Receita Federal e as obras empacadas do PAC. É a temporada das arapucas.

Reforço petista

O PT sentiu o tranco das críticas à acolhida que o governo brasileiro deu ao presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya — críticas estas não pela acolhida em si, mas pela situação de Zelaya ter transformado a embaixada brasileira em um escritório político, concedendo entrevistas e posando para fotos deitado no sofá. Ontem, o partido contra-atacou misturando alhos e bugalhos, referindo-se às reclamações da oposição como falta de apreço pela democracia. Se brincar, vem mais uma armadilha eleitoral, só que essa é do PT contra a oposição.