Exército ocupa fronteira em ação antitráfico | Raul Jungmann

Exército ocupa fronteira em ação antitráfico

sa Folha de São Paulo

O Exército ocupa hoje a fronteira dos Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul com Bolívia e Paraguai na tentativa de impedir a entrada de drogas e armas para as facções criminosas que atuam no Sudeste, especialmente no Rio.

Desde 2005, o Exército já realizou quatro ações do tipo, sem sucesso. As quadrilhas continuam a trazer dos países vizinhos armas como metralhadoras, fuzis e pistolas, além de maconha e cocaína, para as facções CV (Comando Vermelho), TC (Terceiro Comando) e ADA (Amigo dos Amigos), no Rio, e PCC (Primeiro Comando da Capital), em São Paulo. Desta vez, o planejamento prevê a destruição com retroescavadeiras e até dinamite de trilhas que ligam o território boliviano a Corumbá (MS). É por ali, diz a polícia do Rio, que ingressa no Brasil parte das armas usadas por traficantes.

Na Bolívia, o foco do tráfico de armas é a região de Puerto Suárez, a 11 km do marco da fronteira seca em Corumbá. De lá alcança-se o Brasil com facilidade, por via terrestre e fluvial. O policiamento no lado da Bolívia inexiste. No Brasil, é precário. Em Corumbá, os efetivos da PF (Polícia Federal), com 40 policiais, e da Polícia Civil, com 50, são considerados insuficientes pelos próprios delegados que os comandam. Em área, Corumbá é o maior município sul-matogrossense. São 65.165,8 km2, dois terços desabitados por causa da extensão do Pantanal.

Da operação deflagrada hoje pelo Exército com o nome de Cadeado, participam PF, Polícia Rodoviária Federal, Receita, polícias Civil e militar dos dois Estados, Marinha e Ibama. Na região de Corumbá, o Exército vai atuar com 450 homens, com o apoio de lanchas, para o bloqueio do rio Paraguai e afluentes, ao longo de cerca de 400 km de fronteiras.

 

Ao todo, cerca de 1.600 km de fronteiras serão vigiados em MT e MS. Haverá barreiras simultâneas nas estradas e acessos entre os países. A operação deve durar até a próxima sexta. A PF, a Polícia Civil e o Exército mantiveram entendimentos prévios sobre a operação com a Polícia Boliviana, em Puerto Suárez. A intenção era a de que os bolivianos fizessem uma fiscalização mais efetiva ao longo desta semana, o que, até ontem, não estava definido.

O quartel da Polícia Boliviana na cidade é desprovido de equipamentos. Não há sequer um telefone capacitado para ligações internacionais. O único número disponível é o 110, para chamadas de cidadãos na Bolívia que precisem de ajuda. Para manter-se em contato com o comando de Fronteira Policial da Polícia Boliviana em Puerto Suárez, os policiais brasileiros cederam um celular ao coronel Osvaldo Peláez Ramos. Também não há computadores ligados à internet no quartel.

A 100 m da sede municipal da Polícia Boliviana há um cais de madeira de onde zarpam embarcações que seguem para o Brasil, pela laguna Cáceres e pelo canal Tamengo, até chegar ao rio Paraguai. Não há nenhuma vigilância ou fiscalização sobre o que elas carregam.