DIÁRIO DE VIAGEM VI – Reforma Agrária, essa velha conhecida… | Raul Jungmann

DIÁRIO DE VIAGEM VI – Reforma Agrária, essa velha conhecida…

Rafael Filizzola, Ministro do Interior, 40 anos completos, foi o mais jovem dos dirigentes com quem nos entrevistamos. Fundador e ex-presidente do minúsculo PDP – Partido Democrático Progressista, com apenas um deputado e um senador, possui uma carreira de destaque no legislativo paraguaio, tendo, aos 30 anos e em primeiro mandato, assumido a vice-presidência da Comissão de Assuntos Constitucionais da Câmara de Deputados.

De estilo gerencial, objetivo e direto, nos recebeu em seu amplo gabinete, às cinco e meia da tarde de quinta feira, quatro de dezembro.

Feitas as apresentações e tendo nosso coordenador, Marcondes Gadelha, exposto os motivos da nossa visita, abordamos a questão dos conflitos de terra.

De saída, o ministro reconheceu que, após as eleições, houve um aumento de invasões de terra, embora por motivações distintas. Essas incluiriam desde questionamentos sobre a origem de certas propriedades, a acusações de uso indevido de agrotóxicos, além do uso nocivo de reservas ambientais das propriedades invadidas para o corte de madeira e o desejo de alguns grupos de causar “caos social”. Mencionou, ainda, uma possível vinculação de alguns sem-terra com o narcotráfico.

Para Filizzola, porém, a situação hoje seria bem mais estável. E que jamais, de sua memória, viu um governo atuar de forma tão firme para garantir a propriedade privada como o atual. 

Confrontado com a queixa freqüente, pelo que se lê na mídia, sobre ordens judiciais de reintegração de posse não cumpridas, negou que tal ocorra. Assegurou-nos ter a Polícia Nacional “capacidade operativa para agir, desde que haja amparo legal” (sic). 

Perguntei-lhe, então, qual avaliação fazia sobre o plantio de maconha no Paraguai e formas de cooperação e ajuda do Brasil no combate ao problema. Segundo estimativas, o Paraguai seria um dos maiores produtores mundiais de maconha, sendo 70% dela exportada para o Brasil. 

Pela primeira e única vez, o ministro mostrou-se preocupado. Ressalvando que este era um assunto sobre o qual pouco se fala, no longo prazo poderia vir a “afetar a governabilidade do país”. Destacou que, embora não generalizada, existe uma vinculação real entre o plantio da maconha e o conflito fundiário. Preocupava-o serem os recursos parcos e, portanto, a cooperação do Brasil seria bem vinda. 

A esta altura, o embaixador Eduardo Santos nos fazia gestos nada discretos chamando nossa atenção. Estávamos atrasados para o próximo encontro. Então, lancei-lhe uma última pergunta sobre qual seria a solução para a um tema recorrente desde que pisáramos em terras paraguaias, a reforma agrária. 

A resposta que nos deu o ministro Filizzola, o caro leitor ficará sabendo quando passarmos ao post seguinte deste “diário”. Não perca. 

A seguir: DIÁRIO DE VIAGEM VII – “Eu sou você… ontem”