A campanha da honestidade | Raul Jungmann

A campanha da honestidade

Comumente se diz que a honestidade deveria ser não uma virtude, mas um pré-requisito. Que todos os candidatos deveriam ser honestos, buscando-se o melhor através de outros critérios. Diz-se também que hoje, do jeito que a coisa está, ser honesto é algo tão raro, que se tornou uma virtude. Entretanto, se determinada qualidade, estando presente na maioria, não serve como elemento de diferenciação e, por conseguinte, de escolha, não perde, contudo, seu caráter positivo. Se todos fôssemos honestos, a honestidade deixaria de ser algo bom, para ser algo neutro? Creio que não.

Ser ou não ser honesto é algo subjetivo. Não há um padrão uniforme. Afinal, honestidade não se resume em meter ou não meter indevidamente a mão no bolso de alguém. Ademais, a honestidade comporta gradações. É possível ser mais ou menos honesto. Assim, aceitar um determinado padrão de honestidade, traçar uma linha e ver quem está acima e quem está abaixo, é muito mais fácil do que analisar qual aquele que possui um padrão mais elevado do que os demais.

Não se pode exigir que os candidatos sejam, em igual medida, honestos. Porque o padrão de honestidade não é o mesmo para todos. Há diferenças nem sempre tão evidentes. Qual seria o padrão escolhido pelos legisladores? Melhor deixar a decisão para o eleitor, para que ele tente descobrir qual é o candidato mais honesto. Assim, o projeto referente aos fichas-sujas é complicado. Por que, enquanto não houver uma decisão transitada em julgado, como dizer que alguém tem uma ficha suja? Devemos correr o risco de barrar alguém honesto de submeter seu nome para a escolha do povo, principalmente quando mais precisamos de honestidade nas funções públicas? Ademais, caso seja aprovado, quem tiver “ficha limpa”, por mais sujo que seja, vai posar de honesto.

Certamente há quem considere que defender apenas a honestidade é lutar por pouca coisa. “Afinal, eu vou votar em qualquer um, só porque ele é honesto? Suas ideias podem ser as mais diferentes das minhas.” Quem assim pensa, não vê que, por maiores que sejam as diferenças, a honestidade é a única virtude realmente necessária a um político.

Se alguém honesto se candidata, o faz sob a égide da Constituição, a qual certamente procurará respeitar, se eleito for. Ainda que podendo modificá-la, sendo um deputado federal ou senador, respeitará seu núcleo central, no qual se encontram os direitos fundamentais como cláusulas pétreas. Se algum candidato é honesto, teve de filiar-se a um partido pelo qual possui afinidade. Ou seja, certamente não defenderá ideias que sejam frontalmente contrárias às constantes dos estatutos ou do programa do partido – cujo conteúdo é aberto aos cidadãos.

A revolução que nós estamos precisando é a revolução da honestidade. A honestidade uniu os comunistas a Lott. Uniu muitos conservadores a Brizola, na Campanha da Legalidade. Ruy Barbosa também uniu os brasileiros, através da honestidade e da busca pelo respeito à verdade eleitoral, na Campanha Civilista.

A honestidade éalgo que não se compra na esquina. “É fácil fazer de um honesto um biltre. Mas quem poderá fazer de um biltre um honesto?” (Teôgnis). Por mais difícil que possa ser, temos que fazer, permanentemente, um juízo de honestidade sobre os políticos. Temos que saber não apenas se são honestos, mas o quanto eles o são. Temos que mudar as perguntas, de “quais seus projetos, o que o (a) senhor (a) defende?” para “o (a) senhor (a) acha justo isto, acha honesto aquilo?”.

Fonte: Diário de Pernambuco