Senso de Oportunidade | Raul Jungmann

Senso de Oportunidade

Domingo, página dois do Diário de Pernambuco, tenho realçado o meu “aguçado senso de oportunidade” – matéria de Aline Moura. Ao ler, vejo que por falta de espaço, talvez, o que disse fica algo truncado ou um mero detalhe no meio das outras informações. Essencialmente, ponderei à repórter que existem dois tipos de parlamentares: o PG e o PO. O primeiro seria o parlamentar e partido do governo, qualquer governo. É só dar uma olhada. Sarney, Collor, Itamar, FH, Lula, Jarbas, Eduardo Campos – eles estão sempre lá. Não sobrevivem, não se reproduzem, longe do poder das emendas, dos cargos, dos recursos públicos. Já o outro, o Parlamentar de Opinião, esse nada tem a dar material e individualmente ao eleitor – salvo se no governo. E, ai, deixando se ser um PO “puro”, para se tornar num híbrido. Valores, propostas, idéias e compromissos é o que tem a dar um parlamentar de opinião.

Daí que o PO necessita de publicidade, da mídia, para fazer chegar aos eleitores aquilo que faz. Ou morre politicamente. Ergo, passa a ser tachado de exibido, caça-holofotes, oportunista, criador de espetáculo e factóides. Internamente (veja artigo da Dora Kramer abaixo), ele é detestado por parte da corporação. É que boa parte do Congresso, formada pelos PGs, segue na direção contrária. E, de mais a mais, não precisa da imprensa para seguir na política. Precisa do poder e das suas benesses.

Claro, existe toda uma gradação entre PGs e POs, níveis ou tipos intermediários. Seria injusto não admitir. Mas o PO de fato sabe que vive sempre na área de risco. Ele precisa se expor, estar no centro do debate e das questões do momento, colado no dia a dia do eleitor. Necessariamente, irá ferir interesses, muitos serão contrariados. Em outros momentos, despertará a ira da própria mídia, tachados de marqueteiros (sem direito a alegar que os seus projetos, digamos, estruturadores e de longa maturação, e temos muitos, recebem pouca ou nenhuma atenção).

Não importa. Esse é o jogo, é o preço a pagar para empurrar para adiante temas como a ética, o combate à corrupção, o fim da impunidade etc. É isso ou…entrar para o PG!