Dilemas da integração Sulamericana | Raul Jungmann

Dilemas da integração Sulamericana

Por Raul Jungmann

Pela sua amplitude e sucesso, a União Européia permanece sendo o modelo e medida dos processos de integração regional ao redor do mundo.

Liderada pela Alemanha e a França, a integração européia tem na democracia e no capitalismo social de mercado suas bases institucionais – que agora, pós-crise global de 2008, estão sendo severamente testadas no plano econômico e financeiro.

Na redução operada no horizonte espacial da integração, que se desloca da America Latina para a America do Sul, por liderança e iniciativa nossa e cuja cristalização se dá via UNASUL, nosso regionalismo permanece carente de bases institucionais e como uma promessa distante, em que pesa a retórica presidencial.

Líder desse processo, o Brasil até aqui não pôs ênfase na construção de estruturas que pudessem lhe embaraçar os passos rumo a uma maior presença global, em troca de um regionalismo que se acredita, mas não se diz, de difícil concretização. E que, em contrapartida, levassem ao crescimento de nossas responsabilidades e custos financeiros em termos de cooperação.

No vácuo dessa indefinição estratégica, dois movimentos se expandem e consolidam.

De uma parte, paralisam-se ou permanecem estagnadas as mais frutíferas experiências de integração econômica e comercial – embora não sejam apenas isso – do Mercosul e da Comunidade Andina das Nações, CAN. Secundarizadas por um colegiado essencialmente político, a UNASUL, elas marcam passo e ao tempo que florescem os fluxos e inversões financeiras e as trocas mercado a mercado.

No plano interno, o atual governo e o anterior, dando cumprimento a acordos com o grande capital, ancorarão a captura do mercado sulamericano por nossas transnacionais via BNDES , o qual se mantém fora de controle via parlamento.

Tendo por pano de fundo uma crescente assimetria econômica entre o Brasil e seus vizinhos, a compra de ativos, empresas e a exploração de recursos, em especial minerais, tende a agravar a já disseminada percepção de um certo “imperialismo” brasileiro. O que agrava o défict de confiança entre nós e os nossos vizinhos.

Se é verdade que “modelo brasileiro” de democracia, estabilidade e inclusão social inspira seguidores tanto à esquerda como à direita no plano regional, é também igualmente verdade que de nós se espera que assumamos as responsabilidades inerentes à natural liderança que nos cabe. E, dentre elas, a cooperação necessária para que se promova a convergência social e econômica entre nossos países, sem a qual não subsiste o ideal de uma integração entre iguais.

Ao contrário, ao permanecer este estado de coisas, ver-se-á o incremento das defesas nacionalistas e da desconfiança dos nossos parceiros, em contrapartida ao gigantismo empresarial e nanismo institucional brasileiro no processo de integração regional.