DIÁRIO DE VIAGEM X – Sta. Cruz, Cochabamba e…brasileiros, claro! | Raul Jungmann

DIÁRIO DE VIAGEM X – Sta. Cruz, Cochabamba e…brasileiros, claro!

O cel. Araújo sacudiu-me o ombro e pediu para atar o cinto de segurança. Olhei pela janela e revi Santa Cruz de La Sierra, a se esparramar até onde a vista alcançava.

Dormira quase todo o vôo, uns 50 minutos, de Assunção até ali. Na noite anterior, após o jantar de despedida no Paraguai, ficáramos eu, o embaixador Eduardo Santos e Enio Cordeiro, coordenador para a América do Sul do Itamaraty, até as três e meia da manhã conversando sobre a crise com o Equador. Boa conversa.

Agora estava ali, de volta à Bolívia, passado pouco mais de um ano, quando estivera em missão similar, dessa vez em companhia dos colegas deputados Dr. Rosinha e professor Rui Pauletti. Daquela vez, iniciáramos nossa visita por Sta. Cruz e em seguida La Paz. De novidade, agora, uma escala em Cochabamba, bem no centro da Bolívia e, por extensão, da América do Sul.

Da vez anterior, tínhamos vindo ver de perto a questão dos brasileiros vivendo em faixa de fronteira, o que é vedado pela Constituição boliviana. E tomar contato com agricultores, sobretudo sojicultores e pecuaristas brasileiros, vivendo em Sta. Cruz   pressionados pelos sem terra e pela iminência de uma reforma agrária.

Então, descobrimos outras questões, igualmente importantes, a exemplo da explosão do tráfico de pasta de coca para o Brasil e a existência de milhares de brasileiros vivendo em condições precárias e não legalizados – apesar do acordo entre os dois países firmado em 2005. Além de um novo ponto de fricção: os impactos ambientais em território boliviano, fruto da construção das hidrelétricas do rio Madeira, Santo Antonio e Jirau. Quanto ao gás, entendemos que o tema encontrava-se suficientemente atendido em termos de atenções e autoridades envolvidas de lado a lado.

 

Ao longo de pouco mais de um ano, desde setembro de 2007 e após nosso retorno, acompanhei a evolução de toda essa pauta no âmbito da Comissão de Relações Exteriores da Câmara e em contato com o Itamaraty.

Transcorridos quase 16 meses da nossa primeira visita, era hora de retornar, refazer contatos, e checar o que tinha mudado ou não e em que direção, como e por que. Afinal, temos interesses vários na Bolívia, em especial e como no Paraguai, a situação de brasileiros que lá vivem e que, como veremos, enfrentam dificuldades que requerem nossa ação e apoio.

Acredito que é a partir de Cochabamba que vamos ter uma boa idéia do que se passa com os nossos. E é por lá que vamos iniciar esse relato. 

Sta. Cruz, ainda que cronologicamente venha antes, e sobre a qual muito há o que contar e saber, é complementar ao que queremos destacar. Fica prá logo mais adiante. 

A seguir: DIÁRIO DE VIAGEM XI – “Aidéticos”