DIÁRIO DE VIAGEM I – Problemas e razões | Raul Jungmann

DIÁRIO DE VIAGEM I – Problemas e razões

Entre os dias 4 e 9 de Dezembro, estivemos em missão oficial no Paraguai e Bolívia, num périplo que nos levou de Assunção a La Paz, passando por Santa Cruz de La Sierra e Cochabamba.

Éramos quatro parlamentares: o presidente da Comissão de Relações Exteriores, Marcondes Gadelha, do PSB/PB, que nos comandava, eu, Cláudio Cajado, do DEM/BA e Décio Lima, do PT/SC.

Os requerimentos que deram origem à missão foram de  minha autoria, sendo o primeiro deles, solicitando a ida ao Paraguai, apresentado quatro meses atrás. O da Bolívia foi um pouco mais recente.

Os motivos da demora foram vários. Mas, visível mesmo, foi a resistência do presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, em tornar nossa comitiva oficial, portanto credora de passagens e diárias custeadas pela Casa. Ao final, fomos sem autorização da Mesa e apenas com a autorização da nossa Comissão. Decisivo foi contar com a boa vontade da Aeronáutica, que nos cedeu um avião.

O restante foi todo custeado por nós, do próprio bolso. Senão, não iríamos nunca.

 E, finalmente: porque ir até lá?

No Paraguai, preocupava-nos a situação dos 150, 300 ou 400 mil “brasiguaios” – nunca se sabe ao certo – vivendo em grande parte da terra, com situação jurídica indefinida e sob pressão crescente dos meus velhos conhecidos do lado de cá: os sem terra. De quebra, conhecer o ponto de vista paraguaio sobre a disputa envolvendo a hidrelétrica de Itaipu.

Na Bolívia, onde eu estivera um ano antes, a agenda era mais elástica. Ia desde a regularização dos brasileiros que lá vivem, passando pela reforma agrária que afeta produtores nossos radicados em Santa Cruz de La Sierra, até o descontrole na produção da folha de coca. Transformada em pasta, a folha de coca vem sendo apreendida nas nossas fronteiras em quantidades crescentes pela Polícia Federal, a caminho de São Paulo ou do Rio de Janeiro.

Por volta das 11h de uma quinta feira ensolarada e quente, decolamos da base área de Brasília.