A INICIAÇÃO DE RODRIGO, 12 ANOS | Raul Jungmann

A INICIAÇÃO DE RODRIGO, 12 ANOS

Foram três tapas secos no peito. Os olhos de Rodrigo marejaram.

Eram dois policiais PM´s, oito e meia da noite de domingo, praça de São Sebastião, Bonito, Pernambuco.

Após a abordagem, “tira o capacete, mãos nas costas, abra as pernas”,um deles batera na moto com o cassetete. Rodrigo reagiu, com seu jeito de menino, que desse jeito quebrava a sua moto, orgulho que fora presente do pai.

Em resposta, ouviu do PM que batia onde quisesse, seguido dos três tapas. Na praça, pessoas pararam prá ver aquele garoto franzino e assustado ser coagido e apanhar, sem causa aparente, dos dois policias.

Insistiam que ele era do bairro de Arlindo Cavalcanti, bairro pobre da cidade, o que Rodrigo negava.

Por simplesmente negar-se a responder afirmativamente as perguntas aos gritos, foi levado a uma viatura policial e conduzido até a delegacia, que estava, como quase sempre, fechada.

Ali, dentro do carro, Rodrigo foi pressionado para confirmar a suspeita que vinha de um bairro pobre da periferia, onde moravam pobres, que por sê-lo, certamente meliantes.

Descoberta sua origem familiar de classe média, Rodrigo foi obrigado a dizer e repetir que não diria nada em casa, “senão estou perdido”, repetia um dos PM´s, com o assentimento do outro.

Olho para Rodrigo, cabelos aloirados, desengonçado, corpo comprido em cara de menino. Ele olha para o chão, enquanto seu pai chora e tenta se controlar sem sucesso e a mãe segue tudo aflita, torcendo as mãos.

Foram a Secretaria de defesa Social e ouviram do secretário que “isso acontece”, e que o pai perdera a cabeça ao se alterar com os policiais, depois do fato ocorrido
.
Raul Jungmann

PS – O nome do garoto é falso, por motivos óbvios. Hoje a tarde relataremos o caso ao presidente da comissão de direitos humanos da Assembléia Legislativa, deputado Betinho Gomes, ao Ministério Público e OAB