ARTIGO: A 5ª MORTE | Raul Jungmann

ARTIGO: A 5ª MORTE

Por Raul Jungmann * 
 
E m pouco mais de 20 dias, são cinco as mortes de agricultores e sem-terra no sul do Pará e fronteira com o Maranhão. Conheço bem aquilo lá. Em 1998, me chegou a notícia de um massacre, com número indefinido de mortos, em Buriticupu, fazenda Cikel.
 
Quando o Jornal Nacional entrou no ar, voávamos para o Pará, na companhia do general Cardoso, chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República e do ministro interino da Justiça, Milton Seligmann.

 
Chegamos antes do amanhecer e ainda durante a madrugada tivemos uma reunião difícil com a governadora Roseana Sarney, que não queria que fossemos ao local, para não fazer publicidade negativa do Estado, dizia ela.
 
Na sala ao lado, o seu pai, José Sarney, tentava demover o general Cardoso da ida, com os mesmos argumentos Roseana e ainda o peso da presidência do Senado Federal que então exercia. Gentil, mas firme, Cardoso, respondeu que estava ali em missão determinada pelo comandante em Chefe, FHC, e sob minha coordenação, pois assim determinara o presidente da República.
 
Fomos.
 
No caminho, perdidos na vastidão de terras e em meio à floresta e pastos, chegamos ao local do massacre, aonde fomos recebidos por um cadáver calcinado na porteira e um grupo de sem terras, que dominava a propriedade, armados e pouco amistosos.
 
Após uma tensa reunião em cima de sacos de feijão e literalmente cercados, voltamos e por pouco não nos ferramos, quando nosso carro saiu da estrada, bateu e quase capotou.
 
 Voltaria lá muitas vezes depois.
 
(Continua amanhã)
·        Raul Jungmann é presidente estadual do PPS e ex-ministro da Reforma Agrária