15.11.2015 | Raul Jungmann

15.11.2015

DIARIO DE PERNAMBUCO

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CONTRADITÓRIO // ESTATUTO DO DESARMAMENTO »

PORQUE SOU A FAVOR

Raul Jungmann
Deputado federal e Presidente da Frente Parlamentar Pelo Controle de Armas, Vida e Paz

Se o porte de armas fosse liberado para todos, e o Estatuto do Desarmamento revogado, o que aconteceria? Estaríamos mais seguros, como alguns dizem? Veja a seguir, na história de Jonas e sua família, uma resposta a essas perguntas…

Jonas estava feliz, pois, enfim, havia comprado uma arma para se defender dos bandidos. Assim, foi logo mostrando o “berro” aos amigos da rua para que os ladrões soubessem que, na casa dele, a história agora era diferente. Foi aí que teve seu primeiro baque: não é que, com a liberação do porte de armas, quase toda a rua agora também estava armada? Inclusive seu vizinho, o Arnaldo, um cara violento, comprou um fuzil automático com capacidade de disparar até 600 tiros por minuto, o que também passou a ser permitido, constatou um consternado Jonas…Sem falar que o seu João da Bodega, o da esquina, tinha agora seis armas e 600 balas na sua cota anual. Chegando a sua casa, tomou outro susto. Seu filho Joãozinho, que tinha completado recentemente 21 anos, mostrava ao caçula um reluzente 38. Jonas não gostou nada do que viu e quis chiar, mas seu filho foi direto ao ponto: “Pai, todos os meus amigos estão se armando. Liberou geral! Até o Zeca, que tem antecedentes criminais, está com duas armas novinhas. E vai ser assim na balada, no estádio aos domingos, nas aulas… A galera toda”.

Jonas ficou mudo e, preocupado, franziu a testa. Mais ainda quando Salete, sua esposa, que, nervosa, perguntou: “Onde vamos guardar essas armas aqui em casa? Onde, me digam? Na cômoda? Em cima do guarda-roupa? Debaixo do colchão? Nem pensar! Ao alcance dos nossos filhos, seus irmãos, sobrinhos e amigos? E quando tiver festa, bebida e churrasco aqui em casa, em dia de jogo, como vai ser? Me digam?!”.

Jonas agora olhava fixamente para a arma do Joãozinho. Quem sabe o irmão Joel, policial, não lhe aconselharia o que fazer? Foi pensando e ligando, porém Joel nem lhe deixou falar e contou que na PM estava complicado. Com a liberação do porte de armas para todos, subiram, e muito, os confrontos e, consequentemente, o número de policias feridos e mortos. E isso em todo o país. O comando da polícia, inclusive, estava muito preocupado – onde aquilo tudo iria parar?! Antes de desligar correndo, pois tinha uma reunião de emergência na Associação dos Cabos e Soldados sobre o assunto, Joel disse estar arrependido de ter apoiado o fim do Estatuto do Desarmamento.

No jantar, uma cabidela que Jonas tanto gostava e que Salete tinha caprichado, mas a sua via-crúcis continuou. O Jornal Nacional trazia como manchete que o trágico número de 58 mil homicídios do ano anterior havia disparado depois que qualquer um passou a poder andar armado. Isto porque, não só os bandidos continuavam armados, como os cidadãos de bem estavam se matando, por coisas como uma briga no trânsito, uma discussão na fila de ônibus ou com a mulher em casa. Sem falar que, como nos Estados Unidos, não passava um mês sem que uma matança sacudisse nossas escolas.

Mudando de canal, Jonas não escapou do assunto que, convenhamos, o perseguia. Pesquisa de uma universidade mineira, a UFMG, constatou que uma pessoa armada, surpreendida por bandidos, tinha nove entre dez chances a mais de ser agredida. Aí foi demais! Nosso herói resolveu que era hora de dormir. Porém, coitado, mal havia deitado e o som do miserável do vizinho, justo o Arnaldo, o do fuzil automático, explodiu nos seus ouvidos. Ao seu lado, soluçando, Salete repetia baixinho: “Nossa vida virou um inferno, um inferno…, Jonas”. The end.

Quem pensa que se armando sua vida será mais segura esquece que TODOS também poderão ter armas – em casa, no trabalho, na escola, na festa, na vizinhança ou nos campos de futebol. E que isso, em vez de diminuir, só aumentará a insegurança, a violência e as mortes. Igualmente, quem fala que “os bandidos estão armados e os homens de bem desarmados, por isso devemos nos armar”, desistiu de desarmar os bandidos e é, queira ou não, cúmplice e está do lado deles.

Um cidadão de bem, de acordo com a lei e desde que cumpra os requisitos, pode ter uma arma em casa quando comprovadamente necessário. Porém, quem fala em armar toda a sociedade, não acredita na Justiça, nas leis e nas polícias, uma vez que desiste de equipá-las, de fortalecê-las.

Deseja transformar nossas vidas num faroeste; cada um por si e todos contra todos. Quem defende o fim do Estatuto do Desarmamento, que poupou 160 mil vidas de 2003 até hoje, vai engordar os lucros da indústria de armas e aumentar as mortes de jovens e policiais, dentre outros. Quem defende armas para todos vai por armas nas mãos dos nossos filhos e netos, deixando-lhes como legado um mundo e uma cultura de violência e medo.

 

 

ROBERTA JUNGMANN

HOMENAGENS MARCAM PRIMEIRO DIA DA FLIPORTO

Dada a largada oficial para a 11ª edição da Fliporto, que acontece no Colégio São bento do Una, em Olinda. Na noite da última sexta (13), Antônio Campos, presidente do conselho cultural da feira de livros, recebeu sua mãe, a ministra do TCU, Ana Arraes, que assistiu à palestra magna de Manuela Nogueira, sobrinha do escritor Fernando Pessoa, o grande homenageado do evento. Durante a abertura, Campos entregou a comenda “Amigos da Fliporto, amigos da cultura” para 12 personalidades, entre elas o governador Paulo Câmara, que foi acompanhado da primeira-dama, Ana Luiza, e da sogra, Vanja Campos. Uma celebração póstuma foi feita à memória de Ariano Suassuna e seu sobrinho, João Suassuna, também recebeu a comenda em nome de toda a família.

A premiação “Amigos da Fliporto, amigos da cultura”, que procura homenagear pessoas e instituições que tem contribuído com a produção literária local, também entregou diplomas e comendas à filha de ex-governador Eduardo Campos, Maria Eduarda Campos; à poetisa Ana Maria César; ao provedor do Real Hospital Português, Alberto Ferreira da Costa; à Ariano Suassuna, sendo o prêmio recebido por João Suassuna; ao idealizador da Fliporto, Eduardo Côrtes; ao neto do pesquisador e sociólogo Gilberto Freyre, Gilberto Freyre Neto;  ao diretor da M. Dias Branco, Daniel Gutierrez; ao gabinete Português de Leitura, sendo a comenda recebida por Ana Maria Lancaster; e ao prior do Monsteiro de São Bento e Reitor do Colégio de São Bento, Luiz Pedro Soares.

A solenidade de abertura contou ainda com a presença de muitos políticos como o presidente da Assembléia Legislativa de Pernambuco, Guilherme Uchoa e o deputado federal Raul Jungmann.